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Mostrando postagens de setembro, 2025

Família Oliveira, pioneiros.

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Imagem ilustrativa   O sobrenome Oliveira ocupa um lugar significativo na história social do sertão de Cícero Dantas, Fátima e região, compondo uma linhagem que, embora não figure com títulos de nobreza como os Dantas, se projetou como elemento fundamental na engrenagem do poder local. Os registros mais antigos, oriundos do Tombo da Casa da Torre, já indicam a presença de diversos Oliveiras como posseiros e proprietários de terras desde o início do século XIX. Nomes como João Felix de Oliveira (1826, Barroquinha), Bernardino Francisco de Oliveira (1824, Jeremoabo), José Antonio de Oliveira (1815, Arraial), Antonio Joaquim de Oliveira (1855, Caburé) e Manoel Ferreira de Oliveira (1814, Itapicuru) atestam que a família detinha propriedades em áreas estratégicas para a criação de gado e circulação comercial. Isso já os coloca como parte de um grupo social ligado à economia do couro, essencial para a formação da sociedade sertaneja oitocentista. Nas últimas décadas do século XIX e na...

A família Santana em Fátima e região.

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  Imagem ilustrativa Os primeiros Santana – grafados também como Santa Anna – aparecem nos registros de terras da região do Itapicuru e do Tiuiú desde as primeiras décadas do século XIX. Contudo, sua presença remonta à fase de ocupação colonial ligada à Casa da Torre e às freguesias de Santana e Santo Antônio dos Tucanos, criadas a partir das doações de sesmarias no século XVIII. Nomes como José de Santa Anna, Joaquim José de Santa Anna, Constantino José de Santa Anna e José Joaquim de Santana figuram nos tombos de terras entre 1815 e 1830, registrando posses em sítios como Mandacarú, Lagoa da Jabuticaba, Riacho, Urubutinga e Catinga. Esses pioneiros atuaram como posseiros e sesmeiros, expandindo a fronteira da pecuária e da agricultura de subsistência. A primeira geração de Santanas estava, portanto, diretamente vinculada à lógica econômica regional: a pecuária extensiva, fundamental para a formação da “Sociedade do Couro”, e a lavoura de subsistência (mandioca, milho e pequen...

A família Borges em Fátima e Cícero Dantas (1856–1916)

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  Foto: Fátima de outrora. A presença da família Borges na região de Fátima e Cícero Dantas remonta ao princípio do século XIX, quando os primeiros indivíduos dessa linhagem familiar chegam para ocupar as primeiras propriedades. Os registros oficiais, contudo, só aparecem a partir da segunda metade do século, quando quatro indivíduos aparecem nos registros de terras de 1856, são: Francisco Borges de Andrade, comprador da fazenda Pau Preto (hoje, Povoado Paus Pretos), Francisco Borges da Costa (fazenda Raiz), Francisco José Borges (fazenda Lages) e Francisco Borges (fazendas Serra Vermelha e Tombados). Esses nomes, todos ligados à posse rural, constituem o tronco fundador da família, inserida na lógica da pecuária e da economia do couro. Na década de 1890, novos registros consolidam essa presença. Em 1898, a carta de Severo Correia de Souza ao Barão de Jeremoabo menciona o “velho Borges”, figura consultada em meio a uma disputa de gado, o que evidencia seu prestígio e papel de med...

Mutirão e Memória: Gênero e Trabalho na Construção de Moradias Sertanejas.

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  Construir uma casa nunca foi tarefa fácil. É necessário mão de obra especializada, uma gama de materiais de diferentes tipos e origens para erguer uma estrutura que possa ser habitável. Hoje, mesmo com o advento de técnicas modernas, a construção de uma residência continua a ser um desafio para quem deseja construir o seu próprio canto nesse nosso mundo. Os nossos antepassados, nesse nosso seco pedaço de chão, precisavam de um esforço muito maior para construir suas moradias e abrigarem suas comumente numerosas proles. Além dos fatores econômicos (é sabido que a nossa região, assim como todo o nordeste brasileiro, foi muito mais pobre do que é hoje durante boa parte do Império e também da República), as técnicas de construção, salve raríssimas exceções, eram rudimentares. Na grande maioria dos casos, as casas seguiam o estilo de construção conhecido como taipa ou ainda casa de pau-a-pique. Uma técnica que utilizava madeira rústica, ou varas, alinhadas nos sentidos horizontal ...

Entre a cruz e o fuzil: povoamento, poder e violência no Semiárido Nordeste II

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  Imagem: https://br.pinterest.com/pin/577727458418599866/ Em meados do século XIX, o regime de sesmarias ainda regia a relação do homem comum com a terra no Brasil. Nesse sistema, herdado do período colonial, o Estado português concedia o direito de posse a quem se comprometesse a ocupar e produzir. Na prática, apenas a Coroa era a proprietária efetiva: os ocupantes eram posseiros e deviam forro à monarquia. Com a independência, em 1822, esse regime entrou em crise. Somava-se a isso a decadência de antigas casas senhoriais, como a Casa da Torre, que perderam parte de sua influência no interior nordestino. Nesse contexto, a promulgação da Lei de Terras (1850) redefiniu a relação com o solo: a terra transformou-se em mercadoria, acessível apenas mediante compra. O objetivo era claro — excluir imigrantes pobres e ex-escravos do acesso à terra, reservando-a às elites endinheiradas e consolidando ainda mais as desigualdades sociais. No sertão fronteiriço da Bahia com Sergipe, ...

Gigantes de metal em solo fatimense

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  Foto, Moisés Reis.   Usina de Xingó. Quem passa pela BA-220, em direção a Paripiranga, nas imediações de Belém de Fátima, Aroeiras, pelo trecho próximo ao entroncamento de Adustina, pode se surpreender com uma cena pouco comum para essa região. Em meio às lavouras de milho que nesta época do ano exibem o tom seco e amarronzado do fim de safra, erguem-se estruturas metálicas que chamam a atenção de longe, especialmente na direção do povoado Jurema. Essas torres de aço fazem parte de uma das maiores obras de infraestrutura elétrica atualmente em curso no Nordeste: a Linha de Transmissão Xingó–Camaçari. Trata-se de um empreendimento que ligará a usina hidrelétrica de Xingó, no município sergipano de Canindé de São Francisco, às margens do rio São Francisco, até o grande polo industrial de Camaçari, na Bahia. Orçada em valores que variam entre 1,2 e 2,3 bilhões de reais, a linha terá cerca de 350 quilômetros de extensão, atravessando municípios baianos como Inhambupe, Aporá,...

CARTA DE SEVERO CORREIA, 1898.

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 O documento a seguir é uma amostra valiosa de como era a vida na região há 127 anos . À época, homens de negócios se comunicavam pelas vias possíveis, já que o serviço de correios só seria criado oficialmente em 1969 . As cartas — ou “missivas”, como se dizia — eram enviadas por “positivos” , isto é, portadores de confiança. Esse serviço podia ser realizado por funcionários de fazendas, conhecidos que estivessem prestes a viajar ou até mesmo por tripeiros (comerciantes ambulantes). A carta foi escrita por Severo Correia de Souza , da Fazenda Maria Preta , localizada onde hoje funciona o Pisa Macio . O destinatário era Cícero Dantas Martins , o Barão de Jeremoabo , que, ao que tudo indica, estava hospedado em sua propriedade no Bom Conselho — provavelmente no sobrado onde hoje está instalada a Rádio Regional , edifício no qual faleceria alguns anos depois. Um dos pontos mais relevantes do documento é a disputa por terras . Em uma região afastada dos grandes centros urbanos e com...