O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Como surgiram os nomes dos povoados de Fátima?

 



 

            Sempre me questionei sobre como os nomes de alguns povoados da nossa cidade surgiram. Até pouco tempo eu imaginava que nomes um tanto exóticos como Paus Pretos, Serra Velha, Panelas e outros teriam surgido recentemente, isto é, algumas gerações atras.

            Pesquisando na base de dados de registro de terras da Freguesia de Nossa Senhora do Bom Conselho dos Montes do Boqueirão, documentação de posse do Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), tive acesso a alguns registros de terras da nossa região do período 1856/1857 e para a minha surpresa, lá estão muitos dos nomes de povoados que ainda perduram na linguagem do fatimense, isso mesmo, alguns desses nomes já existem há, pelo menos, 164 anos. Surpreso?

            Se por um lado é bastante interessante ver esses registros tão antigos das terras que hoje compõem o município de Fátima, por outro, isso, na prática, inviabiliza determinar a origem exata desses nomes, nos deixando apenas com suposições, uma vez que isso acabou caindo no esquecimento mesmo dos habitantes mais velhos de alguns povoados como pude apurar em recentes pesquisas.

             Mas isso, absolutamente, não tira de nós (fatimenses) o prazer pelas descobertas, visto que agora ficamos sabendo um pouco mais sobre esses povoados tão conhecidos por uns e que são o torrão natal de muitos dos leitores aqui do Blog História de Fátima.

            Não por acaso, muitas vezes, ao se dirigir a determinada comunidade da nossa zona rural, muitas vezes nos referimos a elas como fazendas. Fazendas Paus Pretos, Fazenda Mundo Novo, etc. isso ocorre porque, de fato, boa parte dos povoamentos que temos na zona rural do nosso município se originaram de antigas fazendas.

            Nos documentos do Arquivo Público constam quem eram os donos dessas fazendas no período 1856/1857 e isso não é sem razão. No ano de 1850 foi promulgada pelo governo imperial a Lei de Terras. Na prática, o governo tomava para si a responsabilidade de registrar a posse das terras, tarefa antes realizada pela igreja católica e optava pela grande propriedade rural, uma vez que decidia com a referida lei que o acesso à terra seria exclusividade de quem tivesse dinheiro.

Nessa quadra, por exemplo, a antiga fazenda denominada Serra Velha pertencia um certo Antônio Anastácio de Ferreira, a Gurema (Assim mesmo, com “G”, de acordo com a grafia da época) pertencia a Jorge de Souza Pereira, o João Barbosa a João Dantas dos Reis – esse, certamente um parente do Barão de Jeremoabo – a Queimada Grande, pertencia a Maria de Santa Ana.

             Todas essas terras já tinham a mesma dominação atual desde a segunda metade do século XIX e foram se formando, provavelmente, como núcleos familiares como é o caso da Fazenda Mundo Novo, pertencente na época a um certo José de Souza Quirino. A proximidade entre as atuais localidades de Mundo Novo e Quirinos me leva a crer que o sobrenome Quirino foi introduzido na região já por essa época, sendo esse indivíduo o provável patriarca dessa família numerosa cujos membros residem no povoado de mesmo nome e na sede do município.

            Caso semelhante ocorre no Mundo Novo, onde os moradores de sobrenome Cruz ainda residem naquela área. Essa família também possuía o sobrenome Quirino entre os seus membros mais antigos.

            O processo de formação desses povoados, provavelmente se deu a partir dessas famílias que foram construindo suas moradias próximo aos parentes mais antigos formando os pequenos conglomerados de casas que vemos hoje.

            Outros povoados atuais ainda constam nos arquivos do APEB como Lage da Boa Vista, Lagoa do Viado (provavelmente a atual localidade de Lagoa Dourada) Quixabeira e cajazeira, além do vizinho povoado de Cícero Dantas, Mandacaru. No caso da fazenda Paus Pretos, constam registros de, pelo menos, 30 propriedades no antigo território de Cícero Dantas com esse nome, o que me leva a acreditar que, ou a fazenda com tal denominação era muito grande ou existiam outras fazendas homônimas no território em análise.

            Outros nomes de povoados atuais também são datados do século XIX como Araçás, João Grande (também pertencente na época à família Quirino), Marmelada, Pau de Colher, Cutia e Fazenda das Bananas (provavelmente a atual localidade de Bananeira).

            Outros nomes foram provavelmente substituídos ou surgiram mais recentemente. É o caso de Belém de Fátima, antes provavelmente parte da antiga fazenda Volta. Belém de Fátima (ou Bandinha), foi assim batizada possivelmente pelo Padre Renato nos anos 1960.


10 comentários: