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Mostrando postagens de outubro, 2025

Vaca Brava, Fátima, Bahia

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  A comunidade de Vaca Brava é uma antiga povoação situada nos limites do município de Fátima, na região de tríplice fronteira com Heliópolis e Poço Verde . Sua ocupação remonta ao avanço da pecuária pelo sertão baiano, tendo essa origem nitidamente refletida no próprio nome da localidade. Os registros históricos sobre a região são escassos, porém não inexistentes. Nos Registros Eclesiásticos de Terras de 1856 , há uma declaração de posse referente à Fazenda Tamburi , que menciona como áreas limítrofes as fazendas Tabua , Poço Verde e Vaca Brava . Tal referência indica que o topônimo Vaca Brava já era utilizado pelo menos desde 23 de junho de 1859 . Um documento posterior oferece novas luzes sobre a história local: trata-se do inventário de 1948 de Januário Rodrigues dos Reis , falecido em 18 de janeiro daquele ano, na própria localidade de Vaca Brava. A viúva, Josefa Maria de Jesus , deu entrada no processo de inventário, que tramitou parcialmente nas cidades de Cícero D...

Sertão vem de “Desertão”

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  Imagem disponível em: https://www.facebook.com/sertaonordestinobrasil/       A palavra sertão tem origem no português arcaico e, nos primórdios da colonização, era originalmente grafada como desertão . Em textos portugueses antigos, datados dos séculos XV e XVI, são encontrados trechos que se referem às regiões do interior, distantes do litoral, como desertão . Essa designação não se referia apenas às áreas secas, castigadas pela estiagem ( deserto + desertão ), mas também a regiões afastadas da zona litorânea, caracterizadas pela distância, pela dificuldade de acesso, pela cultura do gado e por outros elementos que, posteriormente, seriam associados ao que hoje conhecemos como sertão . Com o passar do tempo, nota-se uma simplificação fonética muito comum na língua portuguesa. Assim, o que era designado como desertão foi reduzido para simplesmente sertão . Contudo, durante o período colonial, o termo ainda destoava bastante do sentido atual. Regiõe...

José de Magalhães e Souza

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  Nasceu no município Celorico de Basto, uma pitoresca cidade portuguesa situada no distrito de Braga, na região do Norte, marcada por uma paisagem deslumbrante onde o verde dos vales e montes domina o horizonte. Conhecida pela sua rica tradição vinícola, aliada a um passado histórico evidente nas suas igrejas, solares e um ambiente rural acolhedor e tranquilo. Veio ao mundo às duas da madrugada do dia 19 de outubro de 1885. Filho dos lavradores Manoel de Magalhães e Souza e Angélica Mendes da Costa, foi batizado a 22 de outubro do mesmo ano, na paróquia de São Clemente, na mesma cidade. Estudou no seminário de Braga e foi ordenado padre em 1908, quando assumiu a Capela de Nossa Senhora Aparecida, no município de Lousada, ainda em Portugal. No Brasil, antes de chegar em Jeremoabo passou por Morro do Chapéu, sendo nomeado vigário da Matriz de São João Batista de Jeremoabo em 18 de março de 1928. Faleceu aos 95 anos, 21 anos após retornar à terra natal, no dia 13 de maio de 1980. ...

Ângelo Roque (Labareda): Os crimes cometidos.

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 O documento que você verá a seguir foi produzido pela justiça do estado da Bahia em 1943, faz parte do processo movido contra o Ângelo Roque da Costa. Está conforme original sob posse do Arquivo Público do Estado da Bahia:  EXECECUÇÃO DE SENTENÇA DE ÂNGELO ROQUE DA COSTA   02/02/1943   CARTA GUIA DO JUIZ DE JEREMOABO   Carta de guia passada pelo juiz de direito da comarca de Jeremoabo do estado da Bahia, na forma da lei, este faz saber ao excelentíssimo Dr. Diretor da penitenciária deste estado da Bahia que esta carta de guia acompanha o réu Ângelo Roque da Costa , vulgo Labareda, com 35 anos de idade, natural do município de Itaparica no estado de Pernambuco, casado, de profissão negociante, Filho de João Roque da Costa e Martinha Maria dos Prazeres , sem instrução. O qual vai cumprir nessa penitenciária a pena de 30 anos de prisão a que foi condenado por sentença do presidente do tribunal de júri deste termo e comarca de Jeremoabo em vistas das decis...

Homicídio na Lagoa da Volta, 1858.

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            O sertão sempre foi um lugar de tensões e violência, uma terra dura que gerou homens duros, que viam na autodefesa uma forma legítima de sobrevivência. Como já discutido inúmeras vezes aqui no Blog, as rusgas entre fazendeiros, meeiros e boiadeiros costumavam ser resolvidas na ponta da faca ou na boca do bacamarte.              Um exemplo eloquente dessa afirmação ocorreu no dia 20 de setembro de 1858. No processo, consta apenas que o corpo de um certo Pedro Correia foi encontrado “às margens de um pequeno açude, nos limites da Fazenda Mocó”.             Por se tratar de um indivíduo pertencente à família Correia, não é difícil imaginar que o caso tenha ocorrido mesmo na Lagoa da Volta, como consta no documento. Contudo, o final da descrição do local do assassinato reporta que teria sido “nos limites da Fazenda Mocó, às margens de um ...

Sertão violento, crime e escravidão

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  No distante ano de 1858, uma mulher identificada apenas como Maria, escravizada de Pedro José de Matos, foi duramente castigada por um fazendeiro residente em Paripiranga. Enfurecido pela tentativa de fuga de sua cativa, Pedro José ordenou a um funcionário que a castigasse exemplarmente. Essa história é revelada pelo processo nº 03/91/09, sob guarda do Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB). Suas páginas amareladas mostram que, após o castigo, a mulher adoeceu gravemente. As testemunhas afirmaram que as costas da escrava ficaram em carne viva, e que as feridas se estendiam pelas pernas e pelos braços, havendo grande perda de sangue. Ainda segundo os depoimentos, o fazendeiro — talvez movido por arrependimento, ou apenas pelo temor de perder um “bem” valioso — ordenou que fossem ministrados remédios e cuidados à cativa. Mesmo assim, deixada em sua cabana de taipa coberta de palha, Maria agonizou durante três dias, até ser encontrada morta. Levado a julgamento, Pedro J...

A família Souza/Sousa em Fátima e região.

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  Para iniciar a trajetória dessa linhagem familiar nessa área do sertão, tomarei como ponto de partida o nome de Ângelo José de Souza, mais conhecido como Ângelo Lagoa, está intimamente ligado ao processo de formação da cidade de Fátima, no sertão baiano. Casado com Porfíria Maria de Jesus, da tradicional família Canoas da Surjoa, Ângelo fixou residência na Fazenda Boa Vista, em meados da década de 1880, tornando-se o patriarca da primeira família a se estabelecer no núcleo urbano que, décadas depois, daria origem ao município. De acordo com o inventário de Porfíria, falecida em 17 de junho de 1942, o casal deixou 15 filhos vivos e netos, muitos dos quais já nascidos na Praça Ângelo Lagoa, ainda no século XIX. Isso demonstra que a fixação do clã Souza em Fátima foi anterior à década de 1920, contrariando a versão mais difundida de que o povoamento só teria ocorrido naquela época. Nomes como Josefa Maria de Jesus, Antônio Virgílio de Sousa, Maria de Sousa Pires, Emília de Souza...