A
missiva é endereçada ao neto do Barão de Jeremoabo, João da Costa Pinto Dantas
Júnior, o Dr. Dantas, e trata das movimentações políticas entre os poderes de
Cícero Dantas quando Fátima ainda se chamava Monte Alverne.
Na correspondência, o vigário da paróquia
da cidade de Cícero Dantas fala sobre a situação em torno do pleito eleitoral
no qual concorria ao cargo de prefeito da cidade. Deputado estadual na ocasião,
Dr. Dantas era parte da linhagem do Barão de Jeremoabo, seu avô, falecido em
1903 e sepultado na igreja da cidade que carrega seu nome, Cícero Dantas.
Corria o ano de 1954 e o padre
candidato assim escreve ao chefe político em tom de prestação de contas:
Acabo de regressar de Monte Alverne onde realizei
na tarde de hoje grande comício no qual seu nome foi delirantemente aplaudido.
Lembrei ao povo a memória do saudoso coronel Chiquinho Vieira e os benefícios da
política de paz que os Dantas sempre realizaram no nordeste. Várias adesões. Tenho
sofrido ataques tremendos, inclusive ameaças e até fortes pancadas na porta
altas horas da noite. Nada receio. Os ataques estão revoltando o povo que dia a
dia se apavora e abandona os adversários. nunca vi adversários tão cruéis. Descobriu-se
que a empregada que demiti iria envenenar-me. A vitória é certa, apesar de não
dispormos de eleitorado novo e fui prejudicado, o cartório eleitoral é uma
imoralidade, desaparecem títulos novos e velhos.
Em outro trecho, em virtude dos ânimos exaltados,
o padre pede o envio de tropas federais para garantir a segurança e queixa-se
do, agora famoso, Coronel Zé Rufino, o algoz de Corisco que residia na cidade
de Jeremoabo.
Havendo garantias de forças
federais a vitória será esmagadora. Veja se consegue forças federais para Cícero
Danas, até agora não houve mortes porque tenho sido prudente. José Rufino não
apareceu e é dúbio, o soldado não é amigo de ninguém.
O fim do período da história do Brasil
conhecido como Coronelismo é costumeiramente cravado no ano de 1930, ano da
revolução que levou Getúlio Vargas ao poder e colocou números finais à
República Velha. Contudo, as práticas políticas oriundas desse passado tardaram
a desaparecer em nossa região. A carta do Padre Renato Galvão, que se elegeria
prefeito de Cícero Dantas, mostra como as disputas ainda eram pautadas em
fraudes eleitorais e na coerção de eleitores.
A citação do Coronel Chiquinho Vieira, patriarca
da família Vieira de Cícero Dantas, nos mostra como aquele período ainda
carregava forte influência do mandonismo político assim como os sumiços de
títulos eleitorais do cartório demonstram as recorrentes fraudes eleitorais.
Monte Alverne era o maior povoado de Cícero
Dantas, por essa razão, um comício exitoso por aqui era importante para a
candidatura do padre. Um relatos feitos a mim por Joselito Amaral, dá conta de
que a campanha foi, de fato, intensa por aqui, o trecho da música de campanha
ainda é lembrado por alguns fatimenses:
“Valente Padre Renato!
Valente Padre Renato!”
Ao que parece, o Padre buscou
retribuir os moradores de Monte Alverne trazendo para a localidade programas de
incentivo e aperfeiçoamento agrícola e o poço municipal, conhecido como “A
Bomba” pelos fatimenses, inaugurado a 4 de outubro de 1960.
A documentação para a confecção desse artigo nos foi enviada pelo amigo Fernando Pires.
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