O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Carta do Padre Renato Galvão revela aspectos dos pleitos eleitorais em Fátima.



A missiva é endereçada ao neto do Barão de Jeremoabo, João da Costa Pinto Dantas Júnior, o Dr. Dantas, e trata das movimentações políticas entre os poderes de Cícero Dantas quando Fátima ainda se chamava Monte Alverne.
            Na correspondência, o vigário da paróquia da cidade de Cícero Dantas fala sobre a situação em torno do pleito eleitoral no qual concorria ao cargo de prefeito da cidade. Deputado estadual na ocasião, Dr. Dantas era parte da linhagem do Barão de Jeremoabo, seu avô, falecido em 1903 e sepultado na igreja da cidade que carrega seu nome, Cícero Dantas.
            Corria o ano de 1954 e o padre candidato assim escreve ao chefe político em tom de prestação de contas:

Acabo de regressar de Monte Alverne onde realizei na tarde de hoje grande comício no qual seu nome foi delirantemente aplaudido. Lembrei ao povo a memória do saudoso coronel Chiquinho Vieira e os benefícios da política de paz que os Dantas sempre realizaram no nordeste. Várias adesões. Tenho sofrido ataques tremendos, inclusive ameaças e até fortes pancadas na porta altas horas da noite. Nada receio. Os ataques estão revoltando o povo que dia a dia se apavora e abandona os adversários. nunca vi adversários tão cruéis. Descobriu-se que a empregada que demiti iria envenenar-me. A vitória é certa, apesar de não dispormos de eleitorado novo e fui prejudicado, o cartório eleitoral é uma imoralidade, desaparecem títulos novos e velhos.

Em outro trecho, em virtude dos ânimos exaltados, o padre pede o envio de tropas federais para garantir a segurança e queixa-se do, agora famoso, Coronel Zé Rufino, o algoz de Corisco que residia na cidade de Jeremoabo.

Havendo garantias de forças federais a vitória será esmagadora. Veja se consegue forças federais para Cícero Danas, até agora não houve mortes porque tenho sido prudente. José Rufino não apareceu e é dúbio, o soldado não é amigo de ninguém.

O fim do período da história do Brasil conhecido como Coronelismo é costumeiramente cravado no ano de 1930, ano da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder e colocou números finais à República Velha. Contudo, as práticas políticas oriundas desse passado tardaram a desaparecer em nossa região. A carta do Padre Renato Galvão, que se elegeria prefeito de Cícero Dantas, mostra como as disputas ainda eram pautadas em fraudes eleitorais e na coerção de eleitores.
A citação do Coronel Chiquinho Vieira, patriarca da família Vieira de Cícero Dantas, nos mostra como aquele período ainda carregava forte influência do mandonismo político assim como os sumiços de títulos eleitorais do cartório demonstram as recorrentes fraudes eleitorais.
Monte Alverne era o maior povoado de Cícero Dantas, por essa razão, um comício exitoso por aqui era importante para a candidatura do padre. Um relatos feitos a mim por Joselito Amaral, dá conta de que a campanha foi, de fato, intensa por aqui, o trecho da música de campanha ainda é lembrado por alguns fatimenses:

“Valente Padre Renato!
Valente Padre Renato!”

            Ao que parece, o Padre buscou retribuir os moradores de Monte Alverne trazendo para a localidade programas de incentivo e aperfeiçoamento agrícola e o poço municipal, conhecido como “A Bomba” pelos fatimenses, inaugurado a 4 de outubro de 1960.

A documentação para a confecção desse artigo nos foi enviada pelo amigo Fernando Pires.

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