João
da Costa Pinto Dantas era neto de Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo. Nascido
em 1859, formou-se em direito aos 20 anos e aos 23 já era deputado estadual
(1921).
Por ser membro de uma das famílias mais
influentes do nordeste, passou a vida alternando entre os cargos públicos
ligados ao direito e os mandatos de deputado, tendo ocupado também o cargo de
Presidente da Caixa Econômica da Bahia. Integrante do auto escalão da política
baiana, tinha o seu distrito eleitoral nessa parte do sertão, onde suas raízes
familiares o conferiam grande prestígio.
Por essa razão, cultivava amizades com
lideranças políticas locais com quem, à exemplo do avô, trocava correspondências
com enorme frequência. Esses laços de amizade, claro, era uma eficiente forma
de manter os seus votos.
Uma dessas amizades era o vigário da paróquia
de Cícero Dantas, Renato Galvão. Em uma série de cartas disponíveis no “corpus
eletrônico Documentos do Sertão”, entre os anos de 1945 e 1959, o religioso e o
político conversam sobre os temas relevantes para a região, revelando uma
amizade e uma aliança duradoura.
Os documentos revelam que o Padre Renato,
como era conhecido, exercia grande influência dobre o deputado e era realmente
comprometido com as questões da gente pobre da sua comarca.
Evidentemente, sabemos que a relação entre os
dois era permeada de interesses políticos de ambos os lados como era praxe na
época e ainda, em grande medida, o é. O fato é que as cartas do padre,
endereçadas ao deputado, estavam sempre permeadas de pedidos que refletiam a
demanda da população local a despeito de alguns pedidos em nome de amigos
estarem também registrados.
Sempre respeitoso com as palavras dirigidas
ao líder político, o padre frequentemente assim iniciava as suas cartas:
Meu caro amigo, Dantas.
Afetuosas saudações, com elevados votos de bem estar.
Entre as petições encaminhadas ao deputado
pelo vigário estão a construção ou revitalização de estradas, açudes e socorro
perante os efeitos das secas, como podemos notar nesse trecho de carta de 1955
onde, preocupado, escreve o padre:
Escrevo-lhe sobre a
impressão de terrível pesadelo que atormente a mente de todos os nordestinos. As
faltas de chuvas de inverno. Estamos, infelizmente, as portas de uma calamidade
sem precedentes. As chuvas de plantação suspenderam desde maio, noites frias e
dias de sol, tudo se estiola e morre. Lembro ao bom amigo do Nordeste que as
verbas do Departamento de Secas e outros
auxílios de 1956 devem ser maiores, mesmo porque o povo precisa de trabalho
para garantir.
Nota-se, pelo emprego das palavras que o
vigário antecipa-se ao que chama de “calamidade sem precedentes” para pedir
pelos mais pobres e vulneráveis aos efeitos nefastos das secas que à época,
muito mais do que hoje, em virtude da melhor estrutura de amparo estatal,
imprimia muito mais sofrimento ao povo da região.
Nesse outro trecho de setembro de 1957, o
padre solicita a construção de um açude:
Aqui nessa missiva vai o
nosso pensamento sobre a mais importante obra de que necessita o município,
qual seja o açude do Pedrão do Vale.
Na sequência da carta o padre fala sobre a possibilidade
de obras no rio Quingomes que hoje divide os limites de Fátima e Cícero Dantas,
também para prevenção contra as secas e pede que o deputado interfira como
puder para que a obra seja realizada.
Não há registro de petição para a construção
do Poço Municipal de Fátima, a Bomba, inaugurada em 1960, mas é sabido que a
obra foi realizada através de pedido do padre ao mesmo deputado, como já
tratado aqui no blog em textos anteriores.
Os padres sempre desempenharam importante
papel político em nosso região. As capelas erguidas em locais cuidadosamente escolhidos
funcionavam como postos avançados do estado durante a colonização e o poder e influência
dos religiosos manteve-se república a dentro.
A análise da correspondência entre o Padre
Renato Galvão e o Deputado Dantas Jr revela um homem com espírito público e uma
profunda identificação com o povo mais pobre. Essa foi a impressão que tive
dessa figura tão importante para a nossa gente.
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