No princípio
do mês de maio de 1884, o velho Francisco Correia de Souza morre em sua fazenda
Olaria, nas imediações de Vila do Bom Conselho. Em seu inventário de 85 páginas
manuscritas, tocado pela viúva Maria Arcênia de Jesus, um patrimônio enorme é
avaliado e descrito pelo juiz municipal.
Entre
os bens de Francisco Correia, estão 14 cativos, homens e mulheres. Os adultos
têm idade entre 20 e 57 anos e duas crianças, descritas apenas como “os inocentes”.
Já é
bem pormenorizado na literatura, que os escravizados tinham preços muito variáveis
a depender de fatores como idade, porte físico, estado de saúde, sexo,
especialidade no trabalho e outros. Tais características poderiam elevar ou reduzir
consideravelmente o preço do ser humano exposto ao sistema escravista
brasileiro.
Os escravizados
de Francisco Correia, com efeito, estão detalhadamente descritos em seu
inventário. É o caso de Maria, assim descrita no documento:
Maria,
crioula, solteira, com trinta e sete anos de idade com os ingênuos José,
Manoel, e Francisco, matriculado sob o número novecentos e noventa e quatro de
matrícula geral do município e sete da relação, avaliados por trezentos e
cinquenta mil réis;
Veja que
no caso de Maria e seus filhos, o preço é estipulado em conjunto, como se mãe e
filhos pequenos fossem encarados como inseparáveis na hora da venda.
Já no
caso dos homens, os preços foram estipulados separadamente, como se fosse bens
comuns e valiosos. É o caso de Sérgio:
Sérgio,
Cabra, vinte e oito anos de idade, solteiro, matriculado sob o número de mil e
três da matrícula geral do município e dezesseis da relação. Avaliado por
seiscentos mil réis;
Sérgio
era um dos escravos mais valiosos do inventário. Com base em um outro processo,
sabemos que este homem foi assassinado cerca de cinco anos depois por um dos
seus companheiros de cativeiro, quando já pertencia a um dos filhos do
falecido, Raymundo Correia, que o teria herdado com base no mesmo inventário.
Mas,
sabendo que os escravos mais valiosos de Francisco Correia de Souza valiam
cerca de 600 mil réis, como é possível termos uma noção do valor prático que
essa quantia significava para a época?
A resposta
para esse questionamento está no próprio inventário que avalia os demais bens
do falecido. Essa relação nos dá uma boa ideia do quão valioso poderia ser um escravo,
que poderia valer tanto quanto uma casa de laje na vila do Bom Conselho, de
acordo com o mesmo documento.
Para efeito
didático, acrescentarei abaixo uma lista com alguns bens e seus respectivos
valores, a fim de que, o leitor possa fazer sua própria análise:
·
Um boi – valor: 27 mil réis;
·
Uma vaca – valor: 22 mil réis;
·
Uma casa na Vila – valor: 600 mil réis;
·
Uma casa na fazenda – 150 mil réis;
·
Um cavalo russo – valor: 200 mil réis.
Com
base na lista acima, podemos notar que para adquirir um escravo como Sérgio, o
fazendeiro tinha que demandar uma quantia equivalente a cerca de 22 vacas.
Mais
uma vez para efeito didático, vamos fazer uma tentativa de transformar esse
valor em moeda corrente atual, mas isso é somente uma estimativa.
Tomando
como base um valor referência para uma vaca nos dias de hoje, poderíamos afirmar
que um animal adulto, de raças que encontramos no sertão atualmente, poderíamos
estimar o preço de um homem adulto e possivelmente com alguma especialidade
laboral em cerca de 50 a 60 mil reais em valores atuais.
Confesso
que esse exercício de calcular o preço de uma vida humana é algo que me causa
um certo incômodo, contudo, a proposta desse blog é compartilhar com os
entusiastas da história do sertão aquilo o que a documentação nos trás a título
de informação e como eu já afirmei aqui anteriormente, o escravismo não carece
de romantizações.
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