Fonte: Blog do Mendes. |
Por Moisés Reis.
Obs. Esse texto é baseado
na obra O EMBAIXADOR DA PAZ.
No livro
O EMBAIXADOR DA PAZ, abordo a atuação do vigário de Jeremoabo, o português Jose
de Magalhães e Souza que buscou por anos intermediar a rendição de grupos de
cangaceiros e pacificar o sertão.
Como é
conhecido pela história, os bandos de Ângelo Roque e Corisco, foram os últimos
em atividade, estando atuantes mesmo após a morte de Lampião. Com a rendição de
Labareda em Paripiranga-Ba, apenas Corisco, embora fora de combate, ainda
perambulava pelas caatingas.
O
vigário, com isso, temia que Corisco arregimentasse novos membros e voltasse ao
combate e acompanhava com certa angústia o desenrolar dos fatos até que a
notícia da morte de Corisco chega à Jeremoabo, conforme se lê no relato feito a
próprio punho pelo padre no livro de tombo da paróquia:
No dia 28
de maio, chegou aqui pelo rádio a notícia de que tinha sido morto, acima de
Morro do Chapéu, perto de Barra do Mendes, o chefe do último grupo dos bandidos
(o terrível Corisco) que, apesar de aconselhado, como foi Ângelo Roque, atacou
um dos missionários de paz de 1933, dele pediu dinheiro sob prova de morte e
teve ocasião depois de dizer a alguém que, quando alguém falasse em
entregar-se, que “arrancasse a língua com o punhal”. (Livro de Tombo da
Paróquia de São João Batista de Jeremoabo, pág. 121)
O lamento do padre, adapto da política da não violência, se
deve ao fato de ele mesmo e de outros religiosos terem tentado por diversos
meios convencer Corisco a se render. Na sequência, completa:
Esse não
quis atender ao convite do Capitão Felipe, a quem tinha garantido entregar-se
em Paripiranga no dia 19 de maio e assim enganou o capitão e não quis acatar o
conselho firme do vigário de Jeremoabo que lhe pediu por Nossa Senhora. Então
tomaram uma menina e fugiu com a companheira Dadá e a menina e viajaram rumo a
Jacobina, Morro do Chapéu e dali em diante como se fossem romeiros que ia para
Bom Jesus da Lapa. (Livro de Tombo da Paróquia de São João Batista de
Jeremoabo, pág. 121)
No trecho
que se segue, o vigário reporta como, em seu ponto de vista, Zé Rufino teria
rastreado Corisco e conseguido interceptá-lo na fazenda Pacheco:
Afinal,
em Bebedouro, conseguiu convencer um dos cabras dele que se entregou[1] e, mais ou menos, indicou
o roteiro e foi no calcanhar dele o Tenente Zé Rufino, que foi alcança-lo perto
de Barra do Mendes e ali ainda travaram fogo, sendo ele abatido e a companheira
gravemente ferida. (Livro de Tombo da Paróquia de São João Batista de
Jeremoabo, pág. 121)
Curioso
é pensar que Zé Rufino e o padre não mantinham estreitas relações, muito pela
postura de cada um frete ao cangaço. Enquanto o religioso buscava auxiliar a
polícia para que os bandos se rendessem pacificamente, Zé Rufino era um caçador
em busca de presas, durante a sua carreira como militar sagrou-se como “O
matador de Cangaceiros”.
Na
sequência, em tom de regozijo, o padre anota:
Viu-se
assim a esperança raiar aurora de paz. Brasileiros e sertanejos nordestinos.
Louvando, agradeci a Nossa Senhora Aparecida que lhe deveis como vos pode jurar
aos pobres. (Livro de Tombo da Paróquia de São João Batista de Jeremoabo, pág.
121)
O
trecho que se segue, relata a missa celebrada após a morte de Corisco e a
celebração pelo fim do cangaço:
No dia 30
de maio, reunida toda a população da cidade, não só a classe armada, como
também os paisanos, convidados para uma comissão, tendo por chefe o D.
Montalvão. Teve lugar no altar de São João Batista, Querido padroeiro desta
freguesia, uma missa em ação de graças por haver terminado o banditismo pela
entrega de Ângelo Roque e a morte do Corisco. No fim da missa, fui ao púlpito
onde dei infinitas graças a São João Batista e a Nossa Senhora em cujas mãos
foi lançado naquele altar em novembro de 1930 o pedido para se entregarem e
cujo pedido, chegando aos ouvidos de Lampião, o fez retirar-se em 30 de
novembro de 1930 para as brenhas com os seus 18 companheiros, esperando o que
faria em favor dele o novo governo, por intermédio do governo Juracy[2] e de cujas brenhas saíram
em março de 1931, quando alma perversa lhes mandou embaixador que não confiou no
padre porque o padre nada fazia que servisse a eles. (Livro de Tombo da Igreja
de São João Batista de Jeremoabo, p. 116)
José de Magalhães e Souza foi
enérgico no combate pacífico ao cangaço, durante as negociações, recusou-se a
ir à Portugal visitar o pai em seu leito de morte com medo de perder a janela temporal
que acreditava estar aberta a permitir o fim do banditismo no Nordeste.
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[1]
O cangaceiro que entregou o paradeiro de Corisco foi Velocidade II, José
Porfírio dos Santos, natural de Bebedouro, atual cidade de Coronel João Sá.
Quando Corisco decide fugir, ele se desfaz do antigo traje de cangaceiro para
melhor disfarce, entrega suas roupas a velocidade que vai à polícia se entregar
levando consigo as roupas do antigo chefe. É ele o autor da celebre frase:
“Corisco não se entrega por causa da mulher”, se referindo a uma possível
resistência de Dadá para aceitar a rendição, mesmo com Corisco já incapacitado
de brigar por conta de graves ferimentos em seus braços.
[2]
Juracy Magalhães foi nomeado
interventor da Bahia no governo Vargas, era militar e adquiriu grande prestígio
durante a revolução de 1930 liderando uma coluna militar que percorreu o Nordeste
pelo litoral, adentrando os territórios de Alagoas, Pernambuco, Sergipe e
Bahia. É pai do político Jutahy
Magalhães e o avó de Juracy
Magalhães Júnior. Foi Senador Federal, Embaixador, Ministro de Estado,
Presidente da Petrobras e da Vale do Rio doce, entre outros cargos importantes.
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