O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

A herança de Severo Correia


 

No inventário de Francisco Correia de Souza, falecido em 1884, consta uma enorme lista de bens a serem divididos entre os herdeiros. Naturalmente, a viúva, Dona Maria Arsênia de Jesus, fica com metade de tudo e o restante é dividido entre os dez filhos do casal.

Entre os herdeiros, o seu sétimo filho, Severo Correia de Souza herda, de acordo com o documento, a importância de dois contos, duzentos e quarenta e cinco mil réis.

Não há descrição de dinheiro em espécie, sendo essa quantia distribuídas entre 3 fazendas (Maria Preta, Surjoa e Lajes), um quinhão de terra na fazenda Queimadas e outros bens sobre os quais falaremos a seguir.

Aqui cabe um adendo para explicar duas questões a serem compreendidas nesse contexto bastante regionalizado. A primeira delas é que “Queimadas” corresponde a uma quantidade imensa de terras que vai desde a Queimada Grande (Município de Fátima) até o atual território do município vizinho de Adustina; a segunda questão é relativa ao termo “Quinhão de terras”. É difícil definir essa antiga unidade de medidas, uma vez que quinhão varia muito de região para região. Um consenso é que um quinhão de terras equivaleria a uma determinada área que pudesse ser cultivada por uma família, dessa forma, me arrisco a estipular que seria essa um pedaço de terras de aproximadamente dez tarefas.

Mas voltando ao inventário e à herança de Severo, consta que ele recebeu além das terras, 1 escravizado; 2 casas (uma na Vila do Bom Conselho e outra na Fazenda Maria Preta); 86 cabeças de gado; 45 ovelhas e 3 cavalos e burros.

Sabe-se atualmente, que Severo não figurava entre os mais ricos da região, na verdade, provavelmente era um homem bronco, semiletrado e de hábitos simples. Contudo, baseado no documento acima citado e no que já se sabia desse indivíduo, pode-se afirmar que ele chegou a aumentar os bens recebidos como herança em algum momento da vida, embora tenha morrido pobre.

Exemplo disso seja o número de escravizados sob o seu domínio, uma vez que é de conhecimento que o fazendeiro tenha tido em algum momento, ao menos 10 escravizados prestando serviço para ele, o que, por si só, já representava uma quantia considerável em dinheiro, uma vez que um escravizado adulto chegava a valer o equivalente a 25 cabeças de gado.

Outro ponto importante é o fato de Severo ter escolhido viver na fazenda Maria Preta entre as outras duas propriedades que recebeu dos espólios do seu pai. A Maria Preta também nunca foi uma grande propriedade, sendo mais provável que tenha tido um porte médio e, ao mesmo tempo, ficava a uma distância de mais de uma légua do Bom Conselho, onde residiam seus irmãos e sua mãe.

O que teria contribuído para que a Maria Preta tenha sido a propriedade escolhida por Severo para viver? Bem, eu tenho uma teoria, mas ainda acho cedo falar sobre isso. Serão cenas dos próximos capítulos.

  

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