No
inventário de Francisco Correia de Souza, falecido em 1884, consta uma enorme
lista de bens a serem divididos entre os herdeiros. Naturalmente, a viúva, Dona
Maria Arsênia de Jesus, fica com metade de tudo e o restante é dividido entre
os dez filhos do casal.
Entre os
herdeiros, o seu sétimo filho, Severo Correia de Souza herda, de acordo com o
documento, a importância de dois contos, duzentos e quarenta e cinco mil réis.
Não há
descrição de dinheiro em espécie, sendo essa quantia distribuídas entre 3
fazendas (Maria Preta, Surjoa e Lajes), um quinhão de terra na fazenda Queimadas
e outros bens sobre os quais falaremos a seguir.
Aqui cabe
um adendo para explicar duas questões a serem compreendidas nesse contexto
bastante regionalizado. A primeira delas é que “Queimadas” corresponde a uma
quantidade imensa de terras que vai desde a Queimada Grande (Município de
Fátima) até o atual território do município vizinho de Adustina; a segunda
questão é relativa ao termo “Quinhão de terras”. É difícil definir essa antiga
unidade de medidas, uma vez que quinhão varia muito de região para região. Um consenso
é que um quinhão de terras equivaleria a uma determinada área que pudesse ser
cultivada por uma família, dessa forma, me arrisco a estipular que seria essa um
pedaço de terras de aproximadamente dez tarefas.
Mas voltando
ao inventário e à herança de Severo, consta que ele recebeu além das terras, 1
escravizado; 2 casas (uma na Vila do Bom Conselho e outra na Fazenda Maria
Preta); 86 cabeças de gado; 45 ovelhas e 3 cavalos e burros.
Sabe-se
atualmente, que Severo não figurava entre os mais ricos da região, na verdade,
provavelmente era um homem bronco, semiletrado e de hábitos simples. Contudo,
baseado no documento acima citado e no que já se sabia desse indivíduo, pode-se
afirmar que ele chegou a aumentar os bens recebidos como herança em algum
momento da vida, embora tenha morrido pobre.
Exemplo
disso seja o número de escravizados sob o seu domínio, uma vez que é de
conhecimento que o fazendeiro tenha tido em algum momento, ao menos 10 escravizados
prestando serviço para ele, o que, por si só, já representava uma quantia
considerável em dinheiro, uma vez que um escravizado adulto chegava a valer o
equivalente a 25 cabeças de gado.
Outro ponto
importante é o fato de Severo ter escolhido viver na fazenda Maria Preta entre
as outras duas propriedades que recebeu dos espólios do seu pai. A Maria Preta
também nunca foi uma grande propriedade, sendo mais provável que tenha tido um
porte médio e, ao mesmo tempo, ficava a uma distância de mais de uma légua do
Bom Conselho, onde residiam seus irmãos e sua mãe.
O que
teria contribuído para que a Maria Preta tenha sido a propriedade escolhida por
Severo para viver? Bem, eu tenho uma teoria, mas ainda acho cedo falar sobre
isso. Serão cenas dos próximos capítulos.
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