Para
entender como a zona sertaneja do Nordeste brasileiro foi povoado pelo homem
branco (a bem da verdade de maioria mestiça) é preciso compreender que, para o
colonizador, toda zona situada distante do litoral era conhecida como sertão. Assim,
o cerrado e mesmo a Amazônia entrava na classificação de “O grande Sertão”.
Isso posto,
é igualmente importante compreender que a sociedade colonial era baseada visceralmente
no litoral e sua economia inicial era fundada no cultivo da cana-de-açúcar e na
produção dos seus derivados, uma economia essencialmente fundamentada na exportação.
Ocorre
que, com o aumento da população dessa zona litorânea, percebeu-se a necessidade
da produção de carne para o abastecimento interno e foi daí que um problema fez
com que o colonizador voltasse seus olhos para o sertão ermo, seco e povoado
por povos indígenas.
As férteis
terras litorâneas eram decerto muito valorizadas pelos senhores de engenho que
faziam uso do seu potencial para produzir a cana em enormes lavouras cujo verde
dominava a paisagem. Nessa área, iniciou-se a criação de gado, mas as constantes
invasões dos rebanhos às plantações de cana e os vultosos prejuízos causados,
levou a imponente elite açucareira a pressionar o governo a editar uma lei
proibindo a pecuária no litoral, obrigando os interessados na criação do gado a
adentrar os sertões em busca de pastagens.
Assim,
inicialmente através dos rios, os vaqueiros vão ocupando o sertão, abrindo
novas pastagens e criando enormes fazendas com mão-de-obra mista (escarava e de
libertos). Aos poucos os chamados “caminhos do boi” foram sendo abertos pela
passagem das boiadas que seguiam para o litoral após um período de engorda, uma
vez que a única maneira de levar carne fresca do sertão para o litoral era
levando o animal vivo.
Ao longo
do caminho, pequenos povoamentos vão se formando e esses dariam origem a cidades.
Na região da Bahia que hoje tem a denominação de Semiárido Nordeste II,
municípios como Jeremoabo, Ribeira do Pombal e Cícero Dantas são fruto desse
fluxo de bois e pessoas, do lado sergipano da fronteira, cidade como Lagarto e
Simão Dias seguem o mesmo padrão. Mais que isso, em maior ou menor grau, todos
os municípios do Semiárido tiveram a mesma origem.
As boiadas
que seguiam do Rio São Francisco para Sergipe, tinham a Vila de Lagarto como
importante entreposto, do lado baiano, Jeremoabo, Bom Conselho (Cícero Dantas)
Cana Brava (Pombal) e Saco dos Morcegos (Banzaê) também tiveram essa
classificação.
O destaque
fica para Bom Conselho que tinha uma posição estratégica, o povoamento no qual,
em 1812, o Frei Apolônio de Todi ergueu uma pequena capela, era ponto de
passagem dos comboios que seguiam do São Francisco para a Bahia (como era
conhecida a cidade de Salvador) e era via para as boiadas que seguiam para Sergipe,
fazendo da cidade um verdadeiro entroncamento regional.
O boi tinha
tanta importância para a economia nacional que, além da carne, a produção de
couro chegou a ser o terceiro produto na pauta de exportação do país. Outro produto
importante para essa região sertaneja foi o algodão. Bem adaptado ao clima
local, o algodão foi cultivado em pequenas propriedades e seguiam para o
litoral em grandes fardos, o acesso era através dos portos sergipanos. Na cidade
de Salgado - Se, uma linha férrea era utilizada para esse escoamento. Essa linha
férrea, inclusive, foi estudada para uma ampliação, um novo ramal que ligaria o
nordeste da Bahia ao litoral sergipano entrou em pauta no século XIX, mas a
ideia foi barrada pela influência de políticos baianos.
Toda a
produção de algodão sertanejo tinha destino certo, a Europa. Durante a
revolução industrial, as fábricas do continente faziam uso do algodão produzido
no sertão, que chegava ao destino final via navio.
Se o
fluxo de mercadoria era grande entre o sertão e o litoral, o inverso não era
necessariamente verdadeiro. Poucos comerciantes se aventuravam pelas desérticas
paisagens sertanejas para praticar o comércio, a exceção foram os tropeiros,
comerciantes errantes que vendiam sua mercadoria quase que de porta em porta,
abastecendo as bodegas sertanejas dos produtos do litoral, a maioria dos quais,
importados da Europa e EUA.
E assim,
uma sociedade dinâmica foi se formando, as relações comerciais foram sendo intensificadas,
as fazendas foram se modernizando e o homem sertanejo foi sendo lapidado na
lida do gado. Frederico Pernambucano de Melo defende que o indivíduo acostumado
com a dureza da vida sertaneja, com as lutas contra os indígenas e diante da
peleja com o gado, foi formando-se forte e destemido, com um rígido código de honra
onde, por vezes, as rusgas eram resolvidas no cano do fuzil.
Foi essa
sociedade, formada no isolamento em relação ao litoral que, segundo o referido
autor, pôde gerar o fenômeno do cangaço. Para fundamentar sua tese, o estudioso
argumenta que há uma identificação entre o sertanejo e o cangaceiro, uma admiração
que dura até hoje, por aqueles homens e mulheres que protagonizaram momentos de
extrema violência.
Moisés Santos Reis Amaral,
Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela
Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em
Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual
Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do
Cangaço e dos livros Fátima, traços da sua história e O
Embaixador da Paz.
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Cidade de Pinhão e Frei Paulo foi criado através do algodão fábricas e tecelagem nessas cidades tem até um museu la em frei Paulo falando do algodão na região
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