O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quarta-feira, 26 de julho de 2023

A família Dantas vende terras a endinheirados fatimenses.

 


Já fazia tempo que eu buscava o elo “primordial” entre a família Dantas e os primeiros compradores de terras na área que hoje é o município de Fátima. Em outras palavras, não tínhamos até o momento o nome do (a) indivíduo (a) da família do Barão de Jeremoabo, falecido em 1903, e os primeiros fatimenses a adquirir pedaços de terras entre aqueles que detinham a maior parte das terras que hoje compõem esse município.

Para responder a essas questões, fiz uso da história oral com a qual consegui acessar preciosas informações de José Nonato de Oliveira, conhecido como Seu Nonato pelo fatimense. O mesmo senhor, dotado de memória impressionante, já nos ajudou em outras ocasiões aqui no Blog História do Sertão. Na primeira entrevista que fizemos com ele, obtivemos ótimas informações sobre Severo Correia e do cemitério de escravos que ainda hoje guarda os restos mortais dos escravizados da Fazenda Maria Preta.

Essa semana, com o auxílio do seu filho Raimundo, pude ouvir relatos desses primeiros negócios fundiários que se deram por aqui, isto é, quem foram os primeiros indivíduos e comprar terras da poderosa família Dantas.

Essa foi a parte fácil, pois, como dito, a memória do nosso colaborador é prodigiosa e foi simples para ele lembrar desses compradores, muito por ter sido o seu próprio pai, Camilo Bento, um desses. De acordo com seus relatos, os outros compradores foram Joaquim Borges, a família Barros e a família Correia conforme diagrama abaixo.

A parte mais complexa, que envolveu um diálogo conciso entre a história oral e outras fontes de pesquisa, foi saber quais integrantes da família haviam herdado esses terrenos, uma vez que o Barão, como dito, faleceu no Bom Conselho a 27 de outubro de 1903 e a Baronesa, morreu em 1913 em Itapicuru, o casal, inclusive, deixou numerosa prole que herdaria, naturalmente os seus bens.

As terras que compunham o município de Fátima, contudo, foram vendidas (ao menos a parte mais significativa) por dois netos do barão, filhos do seu primogênito João Da Costa Pinto Dantas. Os filhos de João e, por consequência, netos do Barão, foram Arthur e Adelaide da Costa Pinto Dantas.

João da Costa Pinto Dantas, herdou o sítio Camurciatá em Itapicuro e boa parte do prestígio político do Barão. Estima-se que as suas posses (por herança ou adquirida posteriormente) tenham se concentrado aqui pelo sertão. Em 1895, casou-se com Ana Adelaide Ribeiro dos Santos e tiveram 9 filhos (Jesuína, Mariana, Artur, Antônio, Adelaide, Aníbal, José, João e Cícero, todos da Costa Pinto Dantas). Desse numeroso quadro de herdeiros, dois parecem ter herdaram as terras que hoje serve de alicerce para as moradias fatimenses.

Ao que tudo indica, Artur e Adelaide (verificar anagrama abaixo), receberam as terras que iam da atual praça Ângelo Lagoa à divisa com o município de Adustina, mais precisamente a atual fazenda Tabuleiro.

João da Costa Pinto Dantas, esposa e filhos em 1911.


Fonte: Álvaro Pinto Dantas de Carvalho Júnior

De acordo com os relatos de Nonato, Artur e Adelaide foram, inicialmente, negligentes com os terrenos adquiridos do pai. Ainda seguindo a memória do nosso entrevistado, os seus procuradores na região acabaram se apossando de boa parte dessas terras e recebendo indevidamente pagamentos por posses alheias.

Para entender melhor, naquela época, para vendas de terras, se usavam nesta área o termo "logradouro", que consistia numa faixa de terra cuja extensão era estimada “a olho”, como se diz. Como não haviam cercas de arame e a extensão do terreno era enorme, o que inviabilizava circundar tudo com macambira ou gravatá, a solução encontrada era, via de regra, a abertura de finos e imensos corredores, obtidos a partir o desmatamento entre uma propriedade e outra. Esses corredores utilizados como divisória, foram, aos poucos, sendo utilizados por transeuntes como estradas e isso originou boa parte das nossas estradas vicinais atuais.

Ocorre que, essa divisão de terras, não era nada precisa e, aos poucos, a propriedade de Artur e Adelaide, foi ficando cada vez menor, o que, dizem, provocou a visita dos irmãos herdeiros para cuidarem pessoalmente do terreno. Nonato afirma, inclusive, que conviveu com ela nos anos 1940.

E assim, com o desmembramento dessa propriedade, aliás, um enorme e descomunal latifúndio, o município de Fátima foi surgindo, o que, aliás, ocorreu de forma semelhante com boa parte dos municípios da circunvizinhança.

Nota:

Em breve, terei mais informações sobre esses negócios pois localizei os inventários de alguns dos compradores iniciais no Arquivo Público da Bahia e através destes documentos, teremos mais informações sobre as propriedades compradas.


Anagrama para facilitar o entendimento do leitor.


 

Fique ligado, "O Embaixador da Paz" está acabando!!!!




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