Já
fazia tempo que eu buscava o elo “primordial” entre a família Dantas e os
primeiros compradores de terras na área que hoje é o município de Fátima. Em outras
palavras, não tínhamos até o momento o nome do (a) indivíduo (a) da família do Barão
de Jeremoabo, falecido em 1903, e os primeiros fatimenses a adquirir pedaços de
terras entre aqueles que detinham a maior parte das terras que hoje compõem esse
município.
Para responder
a essas questões, fiz uso da história oral com a qual consegui acessar
preciosas informações de José Nonato de Oliveira, conhecido como Seu Nonato pelo
fatimense. O mesmo senhor, dotado de memória impressionante, já nos ajudou em
outras ocasiões aqui no Blog História do Sertão. Na primeira entrevista que
fizemos com ele, obtivemos ótimas informações sobre Severo Correia e do
cemitério de escravos que ainda hoje guarda os restos mortais dos escravizados
da Fazenda Maria Preta.
Essa
semana, com o auxílio do seu filho Raimundo, pude ouvir relatos desses
primeiros negócios fundiários que se deram por aqui, isto é, quem foram os
primeiros indivíduos e comprar terras da poderosa família Dantas.
Essa
foi a parte fácil, pois, como dito, a memória do nosso colaborador é prodigiosa
e foi simples para ele lembrar desses compradores, muito por ter sido o seu
próprio pai, Camilo Bento, um desses. De acordo com seus relatos, os outros
compradores foram Joaquim Borges, a família Barros e a família Correia conforme
diagrama abaixo.
A parte
mais complexa, que envolveu um diálogo conciso entre a história oral e outras
fontes de pesquisa, foi saber quais integrantes da família haviam herdado esses
terrenos, uma vez que o Barão, como dito, faleceu no Bom Conselho a 27 de
outubro de 1903 e a Baronesa, morreu em 1913 em Itapicuru, o casal, inclusive,
deixou numerosa prole que herdaria, naturalmente os seus bens.
As terras
que compunham o município de Fátima, contudo, foram vendidas (ao menos a parte
mais significativa) por dois netos do barão, filhos do seu primogênito João Da Costa
Pinto Dantas. Os filhos de João e, por consequência, netos do Barão, foram Arthur
e Adelaide da Costa Pinto Dantas.
João
da Costa Pinto Dantas, herdou o sítio Camurciatá em Itapicuro e boa parte do
prestígio político do Barão. Estima-se que as suas posses (por herança ou
adquirida posteriormente) tenham se concentrado aqui pelo sertão. Em 1895, casou-se
com Ana Adelaide Ribeiro dos Santos e tiveram 9 filhos (Jesuína, Mariana, Artur,
Antônio, Adelaide, Aníbal, José, João e Cícero, todos da Costa Pinto Dantas). Desse
numeroso quadro de herdeiros, dois parecem ter herdaram as terras que hoje serve de
alicerce para as moradias fatimenses.
Ao que
tudo indica, Artur e Adelaide (verificar anagrama abaixo), receberam as terras
que iam da atual praça Ângelo Lagoa à divisa com o município de Adustina, mais
precisamente a atual fazenda Tabuleiro.
João
da Costa Pinto Dantas, esposa e filhos em 1911.
Fonte:
Álvaro Pinto Dantas de Carvalho Júnior
De acordo
com os relatos de Nonato, Artur e Adelaide foram, inicialmente, negligentes com
os terrenos adquiridos do pai. Ainda seguindo a memória do nosso entrevistado,
os seus procuradores na região acabaram se apossando de boa parte dessas terras
e recebendo indevidamente pagamentos por posses alheias.
Para entender
melhor, naquela época, para vendas de terras, se usavam nesta área o termo "logradouro", que consistia numa faixa de terra cuja extensão era estimada “a
olho”, como se diz. Como não haviam cercas de arame e a extensão do terreno era
enorme, o que inviabilizava circundar tudo com macambira ou gravatá, a solução
encontrada era, via de regra, a abertura de finos e imensos corredores, obtidos
a partir o desmatamento entre uma propriedade e outra. Esses corredores
utilizados como divisória, foram, aos poucos, sendo utilizados por transeuntes como
estradas e isso originou boa parte das nossas estradas vicinais atuais.
Ocorre
que, essa divisão de terras, não era nada precisa e, aos poucos, a propriedade
de Artur e Adelaide, foi ficando cada vez menor, o que, dizem, provocou a
visita dos irmãos herdeiros para cuidarem pessoalmente do terreno. Nonato
afirma, inclusive, que conviveu com ela nos anos 1940.
E assim,
com o desmembramento dessa propriedade, aliás, um enorme e descomunal
latifúndio, o município de Fátima foi surgindo, o que, aliás, ocorreu de forma
semelhante com boa parte dos municípios da circunvizinhança.
Nota:
Em breve, terei mais informações sobre esses negócios pois localizei os inventários de alguns dos compradores iniciais no Arquivo Público da Bahia e através destes documentos, teremos mais informações sobre as propriedades compradas.
Anagrama para facilitar o entendimento do leitor.
Fique ligado, "O Embaixador da Paz" está acabando!!!!
Menino, quanta coisa você conseguiu !!!! Parabéns , Dedi 🩷 São vestígios de nossa história! Muito legal !
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