Fonte: Blog Lampião Aceso. |
Já faz
um bom tempo que pesquiso fotos antigas do cangaço em busca de uma que tivesse
o soldado fatimense Liberino Vicente. Filtrando as inúmeras fotografias pelo
ano em que foram tiradas, pude selecionar algumas, mas a mais promissora de
todas, de longe, foi essa que ilustra esse artigo.
A fotografia
não é bem uma novidade no universo dos pesquisadores do cangaço. Foto tirada
pelo famoso Sírio, Benjamim Abraão, assessor do padre Cícero do Juazeiro, foi
batida em 1936 e pode ser facilmente encontrada em uma pesquisa rápida no
google. A revelação que faz dela especial para mim é o fato de registrar o conterrâneo
Liberino Vicente ao lado dos companheiros de lutas.
Selecionada
as candidata e eleita a favorita, recorri aos familiares para ter a certeza de
que o soldado, na imagem destacado por uma seta, era mesmo Liberino e o
veredito foi unânime, trata-se mesmo dele. De acordo com um dos seus filhos,
Liberato, não resta dúvida.
Munido
dessa valiosa informação, fui buscar agora informações acerca das circunstâncias
em que imagem foi feita e foi aí que a história começou a ficar ainda mais
interessante. Depois de minuciosa pesquisa, pude então descobrir que a ocasião
retratada trata-se de uma evento bastante conhecido no universo cangaceiro.
Naquele
ano de 1936, a volante de Zé Rufino, partiu a pé do Raso da Catarina, nas proximidades
de Serra Negra (hoje, município de Pedro Alexandre) em busca do bando do cangaceiro
Mariano que andava por essas bandas.
Na ocasião
do combate, o subgrupo comandado por Mariano foi dilacerado em cangaleixo, no
município de Porto da Folha, Sergipe. No rastro dos bandoleiros, a volante de
Zé Rufino encontra com Benjamin Abraão que solicita autorização para fazer o
retrato. Nela podemos ver o tenente Zé Rufino – Em pé, o primeiro à esquerda –
e o soldado Liberino, então com 29 anos.
Não está
claro o local específico da fotografia, mas sabe-se que dali os soldados
partiram para a localidade onde suspeitava-se estar o grupo liderado por
Mariano.
Após interrogatórios
e horas seguindo os rastros, os soldados encontraram os cangaceiros jogando
baralho em meio ao precário acampamento de pequenas barracas feitas com lençóis
amarrados à vegetação. O tiroteio foi ferrenho e três cangaceiro foram mortos. Entre
eles, o líder do Bando, Mariano, que teve uma morte dolorida e cruel.
Consta
que, entre os soldados, estava o rastejador Bem-te-vi, que havia entrado para a
volante justamente para vingar a morte do pai, ato cometido supostamente por
Mariano.
Quando
avistou entre os feridos o bandido chefe, Zé Rufino manda chamar Bem-te-vi e o
autoriza a cumprir a vingança que tanto desejava.
De acordo
com texto postado no Blog Lampião Aceso, jamais houve um assassinato com tanto
prazer por parte do algoz. Ainda segundo o relato, Bem-te-vi debruçou-se sobre
o cangaceiro com seu punhal e deferiu golpes vigorosos, fazendo dezenas de
perfurações. Ao observar a cena Zé Rufino teria alertado ao comandado: “Cuidado
com a cabeça que eu preciso dela”.
Ao consumar a morte de Mariano e boa parte do seu bando, os soldados cortaram as cabeças dos mortos a golpe de facão e levaram para Porto da Folha, onde fizeram a foto abaixo.
Cabeças dos cangaceiros e seus pertences. |
A brutalidade sempre foi uma
das principais características do cangaço. Para mim, é sempre estranho pensar
que tudo aquilo sempre esteve tão perto desse nosso solo fatimense.
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