O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Foto de 1936 mostra o fatimense Liberino Vicente ao lado do famoso matador de cangaceiros, o Tenente Zé Rufino.

 

Fonte: Blog Lampião Aceso.

Já faz um bom tempo que pesquiso fotos antigas do cangaço em busca de uma que tivesse o soldado fatimense Liberino Vicente. Filtrando as inúmeras fotografias pelo ano em que foram tiradas, pude selecionar algumas, mas a mais promissora de todas, de longe, foi essa que ilustra esse artigo.

A fotografia não é bem uma novidade no universo dos pesquisadores do cangaço. Foto tirada pelo famoso Sírio, Benjamim Abraão, assessor do padre Cícero do Juazeiro, foi batida em 1936 e pode ser facilmente encontrada em uma pesquisa rápida no google. A revelação que faz dela especial para mim é o fato de registrar o conterrâneo Liberino Vicente ao lado dos companheiros de lutas.

Selecionada as candidata e eleita a favorita, recorri aos familiares para ter a certeza de que o soldado, na imagem destacado por uma seta, era mesmo Liberino e o veredito foi unânime, trata-se mesmo dele. De acordo com um dos seus filhos, Liberato, não resta dúvida.

Munido dessa valiosa informação, fui buscar agora informações acerca das circunstâncias em que imagem foi feita e foi aí que a história começou a ficar ainda mais interessante. Depois de minuciosa pesquisa, pude então descobrir que a ocasião retratada trata-se de uma evento bastante conhecido no universo cangaceiro.

Naquele ano de 1936, a volante de Zé Rufino, partiu a pé do Raso da Catarina, nas proximidades de Serra Negra (hoje, município de Pedro Alexandre) em busca do bando do cangaceiro Mariano que andava por essas bandas.

Na ocasião do combate, o subgrupo comandado por Mariano foi dilacerado em cangaleixo, no município de Porto da Folha, Sergipe. No rastro dos bandoleiros, a volante de Zé Rufino encontra com Benjamin Abraão que solicita autorização para fazer o retrato. Nela podemos ver o tenente Zé Rufino – Em pé, o primeiro à esquerda – e o soldado Liberino, então com 29 anos.

Não está claro o local específico da fotografia, mas sabe-se que dali os soldados partiram para a localidade onde suspeitava-se estar o grupo liderado por Mariano.

Após interrogatórios e horas seguindo os rastros, os soldados encontraram os cangaceiros jogando baralho em meio ao precário acampamento de pequenas barracas feitas com lençóis amarrados à vegetação. O tiroteio foi ferrenho e três cangaceiro foram mortos. Entre eles, o líder do Bando, Mariano, que teve uma morte dolorida e cruel.

Consta que, entre os soldados, estava o rastejador Bem-te-vi, que havia entrado para a volante justamente para vingar a morte do pai, ato cometido supostamente por Mariano.

Quando avistou entre os feridos o bandido chefe, Zé Rufino manda chamar Bem-te-vi e o autoriza a cumprir a vingança que tanto desejava.

De acordo com texto postado no Blog Lampião Aceso, jamais houve um assassinato com tanto prazer por parte do algoz. Ainda segundo o relato, Bem-te-vi debruçou-se sobre o cangaceiro com seu punhal e deferiu golpes vigorosos, fazendo dezenas de perfurações. Ao observar a cena Zé Rufino teria alertado ao comandado: “Cuidado com a cabeça que eu preciso dela”.

Ao consumar a morte de Mariano e boa parte do seu bando, os soldados cortaram as cabeças dos mortos a golpe de facão e levaram para Porto da Folha, onde fizeram a foto abaixo.

Cabeças dos cangaceiros e seus pertences. 

A brutalidade sempre foi uma das principais características do cangaço. Para mim, é sempre estranho pensar que tudo aquilo sempre esteve tão perto desse nosso solo fatimense.


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