O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

De onde vinha o poder do Barão de Jeremoabo?

Homens como Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo, sepultado na igreja de Cícero Dantas, exerciam poderes quase feudais em suas épocas. Dentro dos seus domínios, resolviam questões tão diversas quanto o adiamento de um casamento perante o juiz até o envio de um desafeto para a guerra do Paraguai. (1864-1870).

Suas conexões adentravam as estruturas estatais. Na política, na vida privada e até em assuntos religiosos a palavra do Barão tinha força de lei. As mais de 40 mil cartas que ele escreveu durante a vida nos mostram o respeito e a submissão que seus aliados tinham para com o fidalgo. Toda a autoridade do Barão, contudo, não estava alicerçada em um comportamento violento, mas em suas conexões e, sobretudo, em seu poder aquisitivo, visto que ele chegou a ser o maior latifundiário do Norte/Nordeste entre o final do século XIX e início do século XX.

As raízes desse poderio podem ser traçadas até os primórdios da colonização. De acordo com Carvalho (2012), nas áreas onde predominava a cultura do gado vacum, criavam-se enormes vazios demográficos, o que afastava substancialmente as pessoas comuns do mundo administrativo e da política. Em outras palavras, a ausência do estado em áreas como a nossa, gerava poderes de semi-reis aos grandes proprietários de terra.

Nas palavras do mesmo autor, as pessoas dependiam do latifundiário para morar, trabalhar e defender-se contra o arbítrio do governo e de outros proprietários. Nas grandes fazendas desse nosso sertão, o poder governamental terminava na porteira.

Como é sabido, o poder econômico e político dos Dantas origina-se com a derrocada da casa da Torre, dinastia da família Ávila que detinha todas as terras dessa região. Terras essas que, pouco a pouco, foram em sua grande maioria transmitidas aos Dantas através do pai do Barão, João Dantas dos Reis, que foi comendador dos D’ávila.

Para ilustrar o prestígio do Barão em nossa região, cito a carta direcionada a ele pelo morador da Fazendo Maria Preta, Severo Correia. Na missiva, datada de 20 de novembro de 1898, o fazendeiro local relata ao Barão a invasão de suas terras por vizinhos. Na ocasião, Severo passava por enormes dificuldades dada a assinatura da Lei Áurea e a perda de todo o seu plantel de escravos subsequente.

Não sabemos se Cícero Dantas Martins socorreu o amigo e como a questão foi resolvida, entretanto, a carta de Severo ao Barão é uma amostra da sua autoridade por essas terras. O Barão, como não poderia deixar de ser, herdou a imponência política e econômica do nome que carregava, profundamente ligado às particularidades do Brasil império que adentrou a república e possui resquícios até os nossos dias.

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