
Homens
como Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo, sepultado na igreja de Cícero
Dantas, exerciam poderes quase feudais em suas épocas. Dentro dos seus
domínios, resolviam questões tão diversas quanto o adiamento de um casamento
perante o juiz até o envio de um desafeto para a guerra do Paraguai.
(1864-1870).
Suas
conexões adentravam as estruturas estatais. Na política, na vida privada e até
em assuntos religiosos a palavra do Barão tinha força de lei. As mais de 40 mil
cartas que ele escreveu durante a vida nos mostram o respeito e a submissão que
seus aliados tinham para com o fidalgo. Toda a autoridade do Barão, contudo,
não estava alicerçada em um comportamento violento, mas em suas conexões e,
sobretudo, em seu poder aquisitivo, visto que ele chegou a ser o maior
latifundiário do Norte/Nordeste entre o final do século XIX e início do século
XX.
As raízes
desse poderio podem ser traçadas até os primórdios da colonização. De acordo
com Carvalho (2012), nas áreas onde predominava a cultura do gado vacum,
criavam-se enormes vazios demográficos, o que afastava substancialmente as
pessoas comuns do mundo administrativo e da política. Em outras palavras, a
ausência do estado em áreas como a nossa, gerava poderes de semi-reis aos
grandes proprietários de terra.
Nas palavras
do mesmo autor, as pessoas dependiam do latifundiário para morar, trabalhar e
defender-se contra o arbítrio do governo e de outros proprietários. Nas grandes
fazendas desse nosso sertão, o poder governamental terminava na porteira.
Como é
sabido, o poder econômico e político dos Dantas origina-se com a derrocada da
casa da Torre, dinastia da família Ávila que detinha todas as terras dessa
região. Terras essas que, pouco a pouco, foram em sua grande maioria
transmitidas aos Dantas através do pai do Barão, João Dantas dos Reis, que foi
comendador dos D’ávila.
Para ilustrar
o prestígio do Barão em nossa região, cito a carta direcionada a ele pelo
morador da Fazendo Maria Preta, Severo Correia. Na missiva, datada de 20 de novembro
de 1898, o fazendeiro local relata ao Barão a invasão de suas terras por
vizinhos. Na ocasião, Severo passava por enormes dificuldades dada a assinatura
da Lei Áurea e a perda de todo o seu plantel de escravos subsequente.
Não sabemos
se Cícero Dantas Martins socorreu o amigo e como a questão foi resolvida,
entretanto, a carta de Severo ao Barão é uma amostra da sua autoridade por
essas terras. O Barão, como não poderia deixar de ser, herdou a imponência
política e econômica do nome que carregava, profundamente ligado às
particularidades do Brasil império que adentrou a república e possui resquícios
até os nossos dias.
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