O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

segunda-feira, 22 de março de 2021

A trajetória do cinema em Fátima.

 


    Nesses nossos tempos, ir ao cinema é algo quase démodé na concepção da nossa juventude, talvez por falta de espaços com essa finalidade e/ou em decorrência do advento de plataformas on-line que oferecem um extenso catálogo de filmes e séries. Ao que parece, tudo isso foi minando a hábito de frequentar salas de cinema.

            O cinema é um fruto do século XIX, para os fatimenses, essa “novidade” chega ainda nos anos 1980, quando projetores errantes e rolos de filmes paravam sazonalmente na então Vila de Fátima para a apresentação de filmes de diversos gêneros.

            Em conversa com José Bomfim Andrade, testemunha ocular daqueles acontecimentos, foi possível traçar um panorama dos eventos em torno da introdução do cinema na sociedade fatimense.

            Onde hoje funciona o supermercado Nossa Senhora de Fátima, funcionava o Cine Jangada. Nome pitoresco dado pelos jovens da época à sala de cinema improvisada tocada por um sisudo senhor de nome Manoel, ávido pela aguardente Jangada, daí o nome popular da sua sala.

            Seu Manoel Jangada, como era conhecido, era natural de Ribeira do Pombal e ganhava a vida “passando filmes” pela região, de acordo com Dárcio, figura que, como veremos adiante, faz parte desse aspecto interessante da história de Fátima, ele atuava em Fátima, Adustina, Antas e diversas outras cidades e vilas da região.

            Dárcio era um garoto na época e ganhava uns trocados girando o velho projetor de filmes. Para que aqueles mais jovens possam compreender, o projetor era uma engenhoca mecânica onde o rolo de filme era acoplado e necessitava que alguém girasse a manivela que ia rodando o filme e projetando-o na parede para os espectadores.

            Ainda nos anos 1980, Seu Manoel do 14, criou o Cine 14, que ficava nas proximidades de onde hoje funciona a Panificadora Valentina. De acordo com José Bomfim, aquela região era o que comumente se chamava de “ponta de rua”, isto é, era uma área afastada do então centro da vila, localizada em área sem muitas construções e com esgoto a céu aberto.

            Quando eu era criança, já nos anos 1990, lembro de ter assistido a uma das últimas cessões do Cine 14, que já funcionava onde é o conhecido Bar 14. Dárcio, que com o passar do tempo tornou-se prático na arte de girar o projetor ainda trabalhava no Cine 14.

            Naquela oportunidade, assistimos a um filme dos trapalhões e enquanto dávamos gargalhadas com as peripécias do quarteto trapalhão, um ou outro espectador mais travesso erguia a mão no meio da sala de cinema e, como o projetor ficava nos fundos, projetando o filme na parede da frente, a mão do atrevido aparecia como um sombra no meio da tela, o que gerava desaforados xingamentos para o indivíduo.

            Em 8 de julho de 1896, os primeiros filmes foram exibidos no Brasil, na Rua do ouvidor, no Rio de Janeiro. Levaria mais de 80 anos até que a chamada sétima arte fosse apresentada ao povo da pacata Vila de Fátima. Aqueles eventos ainda estão gravados na mente das testemunhas oculares e formam mais uma das facetas da nossa história.


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