O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Padre Renato Galvão pede ajuda ao governador da Bahia para socorrer o povo de Monte Alverne.

Luiz Viana Filho, Ex-Governador da Bahia. 
Fonte: Google Imagens.

 

Nos anos 1950, “Monte Alverne” era como se chamava o pequeno povoamento que, futuramente, se tornaria a cidade de Fátima. Como é de conhecimento de todos os seus habitantes, a seca, infelizmente, é uma realidade com a qual, de tempos em tempos, o povo dessa nossa terra precisa lidar.

            Felizmente, nos dias atuais, existem políticas de combate à seca que amenizam bastante o sofrimento do nosso povo. Certamente, ainda faltam ações mais efetivas de combate a esse flagelo que a natureza nos imprime, mas ações como água encanada, carros pipas, açudagem, programas de financiamento para a agricultura familiar e demais atos de assistência social que temos hoje atenuam os efeitos nefastos da seca.

            Na década de 1950, contudo, as políticas sociais de combate à seca deixavam muito a desejar e o sofrimento do povo dessa região era infinitamente maior. Um personagem de grande valia para a população mais pobre por essas bandas, certamente, era o Padre Renato Galvão. Diversas cartas publicadas no acervo do “Corpus Eletrônico, Documentos do Sertão” registram a luta do vigário, ex-prefeito de Cícero Dantas, para, literalmente, salvar vidas das severas secas.

            Em carta endereçada ao Deputado Estadual João da costa Pinto Dantas Júnior, datada de 7 de setembro de 1955, o vigário apela ao chefe político local, a intercessão do parlamentar junto ao então governador da Bahia, Luiz Viana, em nome do então povoamento de Monte Alverne que sofria com os efeitos hediondos da seca daquele ano.

            Embora o ano de 1955 seja marcado na história de Fátima com o andamento das obras da Ferrovia Salgado/Paulo Afonso, o que certamente impulsionou a economia da região, as consequências da seca daquele ano atingiam de forma desumana a população local que, de acordo com os relatos do Padre Renato, não possuíam água para beber e haviam perdido a lavoura e a criação, muitos precisavam se alimentar de farelo resultante da moagem do tronco do Licurizeiro.

            Na oportunidade, escreveu o padre ao Deputado:

 

Peço a sua valiosa interferência junto ao Dr. Viana a respeito do Distrito de Monte Alverne, cuja população não tem mais água.

 

            O apelo feito especificamente em nome do povo de Monte Alverne, aponta uma identificação já bem conhecida que o religioso tinha com os nossos antepassados. Esse pedido, provavelmente, foi devidamente encaminhado ao governador e resultou na construção do Poço Municipal, “a Bomba”, como é popularmente conhecida e que ainda hoje existe na praça da igreja matriz. O poço que seria inaugurado 5 anos após o envio da carta (1960) ainda serve ao povo fatimense.

A relação do Padre Renato com o Dr. Dantas, como o deputado era conhecido, foi muito duradoura e proveitosa para o povo que vivia na área de influência do Padre. As centenas de cartas trocadas entre os dois dão conta de uma relação amistosa entre o político e o religioso.


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