Quem nunca ouviu dos pais ou avós que não se pode contar estrelas? Contar os astros no céu, de acordo com a tradição popular, faz nascer verrugas; e muitas verrugas ao longo da história, foram classificadas como uma consequência da teimosia das crianças e realizar tal ação.
Mas de onde vem essa ideia que, nos tempos atuais, até soa
como absurdo, ingenuidade?
E se eu te disser que essa e tantas outras tradições que
permearam por séculos e por diferentes gerações, têm origem no judaísmo? Isso mesmo,
de acordo com a tradição judaica, o dia começa com o aparecimento da primeira
estrela no céu do dia anterior e isso fazia com que os judeus ficassem atentos
ao aparecimento do astro no céu noturno. Como a prática do judaísmo foi
proibida durante muitos anos em territórios portugueses, temia-se que as
crianças apontassem para o céu, para a primeira estrela, e revelasse seu
interesse e sua tradição, denunciando assim toda a família que, porventura,
praticasse o judaísmo ocultamente. Em virtude disso, criou-se o costume de
contar às crianças que, se apontassem estrelas no céu, nasceriam verrugas em
sua pele.
Práticas
tão comuns ao sertanejo como acreditar que não se deve varrer a casa jogando o
lixo pela porta da rua, têm origem no judaísmo. De acordo com a tradição, é
pela porta que passam os mortos velados na residência e em sinal de respeito,
não se passa com o lixo por ali.
Mas
como essas tradições chegaram aos nossos avós e bisavós?
Essa é
uma história interessante, que vamos contar a partir de agora:
Fugindo
de perseguições religiosas na Europa, muitos judeus se erradicaram no Brasil,
boa parte deles, inclusive, vieram ao país como uma forma de punição a partir
de 1531, a razão disso está no fato de Portugal, um país católico, proibir a
prática do judaísmo em seus domínios, chegando a forçar a conversão destes ao
cristianismo, o que deu origem aos “cristãos-novos”.
Durante o domínio holandês, contudo, no Nordeste do país
(1630-1654) os Judeus puderam exercer livremente as suas práticas religiosas,
sobretudo no litoral. Isso porque, os holandeses tinham uma prática mais
amigável com relação aos israelitas por afinidade religiosa.
Quando os holandeses foram expulsos do Brasil pelos
portugueses, restou aos judeus fugir para Minas Gerais, Voltar para a Europa,
ou adentrar os sertões ermos a fim de praticar com mais liberdade as suas
tradições religiosas e fugir da perseguição da inquisição.
No sertão, essas famílias ocuparam diversos setores da
sociedade, tornaram-se mascates e viajantes pelas estradas sertanejas,
tornaram-se criadores de gado, ovelhas e cabras e se misturaram às populações
locais. Sobrenomes como Bezerra, Pereira e Cavalcante, são de origem judia.
Aos poucos, essas unidades familiares foram se mesclando ao
sertanejo caboclo, mas as tradições e características físicas e sociais foram
sendo herdadas ao longo das gerações.
Assim, traços físicos como:
·
Moreno-claro;
·
Cabelos negros;
·
Baixa estatura;
·
Testa curta;
·
Cara alongada;
·
Nariz pontiagudo
São
características dos judeus que encontramos em muitos sertanejos ainda nos dias
atuais.
Importante
salientar que, nem todos os que carregam essas características físicas são descendentes
de judeus, essa determinação precisa de uma investigação mais abrangente.
Além
dos traços físicos, existem também características típicas judaicas como:
·
Grande habilidade para o comércio;
·
Indivíduo desconfiado;
·
Fama de “pão duro”;
Achou
pouco? ainda tem mais. Muitos dos ditados que pronunciamos hoje em dia de forma
automática e natural, tem origens igualmente nas tradições judaicas. vejamos:
·
Está pensando na morte da bezerra – Se
refere a quem está desatento, com pensamentos distantes;
·
Passar a mão sobre a cabeça –
Designa o ato de amenizar, perdoar um erro – Esse ditado origina-se no hábito
judaico de abençoar, passando a mão sobre a cabeça descendo pela face;
·
Jogar para o santo – Se
refere ao hábito de, antes de ingerir uma bebida, jogar um gole fora –
Origina-se da tradição milenar da páscoa dos judeus que costumam reservar um
copo de vinho para o profeta Elias, representando o Messias que virá;
·
Vestir a carapuça –
Designa aquele que se identificou como culpado – Origina-se na idade média, quando
os judeus eram obrigados a usar chapéus pontudos para se identificar;
·
Pedir a bênção – A
prática de pedir a benção aos pais ao sair e chegar, remonta a antiga prática
sacerdotal, quando os pais abençoam os filhos.
Obviamente,
o sertanejo, assim como a maior parte dos brasileiros, é fruto da miscigenação
comum ao nosso povo e essas (digamos) heranças aqui ressaltadas, são parte
dessa formação social, que se une a outras tradições tão importantes como a
indígena, africana, europeia e árabe, todas essas culturas formaram o tempero
que produziu o sertanejo típico.
Que legal, nossos ditados tem origem. Gostei muito desse lado histórico.
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