O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Os Félix em Fátima e região.

Imagem ilustrativa.

 

        Quando divulguei aqui no blog as informações colhidas no processo-crime que investigou o assassinato de João Lucindo de Souza em 1919, mostrei que diversas linhagens familiares importantes na cidade foram citadas no referido processo como acusados ou testemunhas do fato. Mas uma família em particular, chamou a minha atenção, a família Félix. Não somente por ser a linhagem familiar de João Maria de Oliveira, mas pelas informações constantes no documento acerca de alguns indivíduos que por aqui já viviam ainda no século XIX.

          O mais antigo deles, Félix José de Oliveira, nasceu em 1849 em Coité, atual Paripiranga, era, até aquele momento, o indivíduo mais antigo nessa região com o sobrenome Félix de Oliveira.

          Para melhor compreender o significado disso, é preciso que se diga que no século XIX e no século XX, era comum que os filhos homens herdassem o sobrenome dos pais, sem acréscimo do sobrenome da mãe. Um exemplo disso é a família Correia, cujos membros do sexo masculino mais antigos herdaram o sobrenome “Correia de Souza”, carregado por diversas pessoas ao longo da história.

          Félix José de Oliveira, como dito, não nasceu em Fátima, mas parece ter por aqui se estabelecido ainda no XIX e constituído família, pois sabe-se que aqui nasceram Francisco Félix de Oliveira (1885) e Pedro Félix de Oliveira (1892), ambos na Laje da Boa Vista. Destes, descendem, entre outros, como Ludgero Félix (pai de João Maria), próprio ex-prefeito de Fátima e incontáveis descendentes.

          Essas informações me levaram a pensar que os primeiros Félix chegaram à Fátima vindos de Paripiranga, tomando como base o mais antigo deles conhecido até o momento, Félix José. Contudo, investigando mais a fundo, percebi que há dados que revelam ser essa história muito mais complexa.

          Tomando como fundamento apenas o sobrenome Félix, o mais “incomum” dentro do âmbito da nomenclatura “Félix de Oliveira”, pude rastrear diversos sujeitos na comarca de Cícero Dantas, Jeremoabo e até em Pombal no século XIX e também no século XX.

          Quando essa área (Fátima e também Cícero Dantas) ainda pertencia a Jeremoabo, alguns cidadão com o sobrenome Félix, adquiriram fazendas, registrando-as em seus nomes. Entre eles, João Félix de Oliveira, que registrou em 1826 a fazenda Barroquinhas; Antônio Félix de Souza, adquire e registra a fazenda Capim em 10 de agosto de 1830, assim como Félix pereira, registra a fazenda Oiteiro a 18 de agosto de 1828; Félix Peres do Nascimento, registra em seu nome a Rio Pequeno, José Félix de Jesus a Pedra Branca em 01 de janeiro de 1821 e Luiz Félix de Carvalho registra a fazenda Mandacaru como sua propriedade em 07 de dezembro de 1821.

          Esses registros de terras, constam da base de dados do arquivo público da Bahia. Eram documentos elaborados pela igreja católica, todos eles dentro do então território da Vila de Bom Conselho.

          Em alguns processos-crime, também de posse do Arquivo Público, encontramos outros Félix nessa mesma área geográfica: José Félix de Oliveira, responde por furto em Cícero Dantas contra Pedro Ribeiro de Souza em 1919, conforme o documento 10 constante na estante 14, caixa 563 do arquivo. Da mesma forma, Félix Francisco, responde pelo homicídio de Tibúrcio de Tal (a expressão “de Tal” era utilizada quando o sobrenome de alguém era inexistente ou desconhecido) em Cícero Dantas em 1896 e João Félix dos Santos responde por lesão corporal em 1923.

          No dia 9 de outubro de 1898, o dono da Maria Preta, Severo Correia de Souza, escreve ao barão de Jeremoabo e descreve uma briga por terras entre ele e um certo Félis (Félix). Essa parece ter sido uma confusão grande, nela, Severo acuso o vizinho de invadir sua propriedade e ameaçar seus vaqueiros.

          Todos esses indivíduos, como vimos, carregavam o sobrenome Félix, alguns até com o Félix de Oliveira, o que pode indicar uma ligação ainda mais estreita com a mesma família que se estabeleceu em Fátima.

          Essas informações, com efeito, nos levam a pensar que não é seguro afirmar que a família é originária de Paripiranga como eu havia pensado antes, uma vez que indivíduos com o mesmo sobrenome já habitavam Bom Conselho ainda na primeira metade dos anos 1800.

          Se os novos dados não nos permitem uma conclusão, isso está longe de ser uma decepção, na verdade, esse viés histórico me permitiu acessar dados importantes que ajudam a compreender um pouco mais das nossas origens. Até a próxima.

Um comentário:

  1. Leandro Calazans de Oliveira10 de janeiro de 2024 às 06:57

    Bom dia, eu sou da família Félix gostaria de aprofundar as minhas origens!

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