Através de documentação acessada junto ao
acervo do arquivo público da Bahia e publicada por Santana (2008), tivemos
acesso a um registro histórico de casamentos comunitários ocorridos na
Serradinha em 1912 e outras informações relevantes para montar o quebra-cabeças
que compõe a história de Fátima.
O documento em questão faz parte do
levantamento feito em 1949 pelo município de Bom Conselho a fim de dirimir
dúvidas quanto a posse das terras limítrofes com Paripiranga.
Aparentemente foi criada uma comissão para
solucionar a disputa de terras entre os dois municípios citados. Vale lembrar
que a pequena povoação que mais tarde originaria Fátima ainda não havia sido alçada
ao status de Vila, o que só viria a acontecer em 1960.
Parte dos trabalhos da comissão era colher
informações sobre a posse das terras em litígio. Boa parte do que hoje é o
município de Fátima como Lagoa da Volta, Formigueiro, Serradinha e São Domingos,
por exemplo, era disputada pelos dois municípios à época e uma das formas
encontradas para esclarecer a questão foi a entrevista de moradores antigos para
colher informações. Essas entrevistas foram registradas como declarações
apresentadas à justiça, nas quais os habitantes buscavam marcos históricos para
determinar a posse das terras.
Uma dessas declarações foi dada pelo cidadão
Pedro Correia de Souza Filho, à época com 76 anos. Pedro Correia (Pai de
Correinha da Zabumba) nascera em 1873 é um dos primeiros membros da família
Correia (que ainda hoje habita a mesma região) a ser registrado como morador da
antiga fazenda Lagoa da Volta, outrora propriedade do Barão de Jeremoabo. O
barão, inclusive, era seu padrinho e tio.
Vejamos a transcrição parcial do documento:
Eu, Pedro Correia de Sousa
Filho, nascido na fazenda Volta, município e freguesia do Bom Conselho, com 76
anos de idade, filho de Pedro Correia de Souza e Lavínia Francisca Dantas (Irmã
bastarda do Barão), residente da Fazenda Formigueiro, do mesmo município e
paróquia de Cícero Dantas, a bem da verdade, sem coação alguma, venho declarar:
Que entre seus vizinhos
conseguiu algumas declarações de casamentos celebrados pelo Padre Vicente na
Serradinha, na casa de Chico Preto em 1912: José Gato e Luiza, Antônio
Barrigudo e Maria, Francisco Vicente e Mariana, Manoel Nunes e Josefa, Balbina
Barra e Teodoro.
O motivo de Pedro Correia citar os casamentos
ocorridos na Serradinha é que a celebração foi feita pelo vigário de Bom
Conselho, o que indica que aquela região pertenceria ao mesmo município.
Vale lembrar que os padres exerciam grande
importância nas questões ligadas à posse das terras. Para se ter uma ideia, o
registro de compra e delimitação de uma propriedade rural era feito pelos religiosos,
em cumprimento de lei imperial de 1850. Dessa forma, o ato de um padre
celebrar o casamento em uma comunidade, significava que aquela pertencia à
sua diocese.
Essa documentação é um excelente registro do
passado da região. Um dado curioso é que a família Correia habita a região há,
pelo menos, 150 anos. Outro fato interessante é a ligação de parentesco entre
essa numerosa família e o Barão de Jeremoabo. Em outro trecho da sua declaração
é citado:
Lembra-se que seu padrinho
de batismo, Sr. Cícero Dantas Martins, Barão de Jeremoabo, por sinal, seu tio,
porque sua mãe Lavínia Francisca Dantas era irmã bastarda do Barão.
Pedro Correia de Souza Filho provavelmente
está sepultado no cemitério particular da família na Lagoa da volta, essa
informação será checada em breve, assim que a família autorizar uma visita à
propriedade.
O documento data de 21 de novembro de 1949 e
é assinado por Maurício José de Santana.
Parabéns. Excelente trabalho!
ResponderExcluirMuito bom, professor Moisés!
ResponderExcluirBom é ver o interesse dessa galera pela história de Fátima.
ResponderExcluirBom é ver o interesse dessa galera pela história de Fátima.
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