O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Documentação do arquivo público da Bahia revela aspectos da história de Fátima.




Através de documentação acessada junto ao acervo do arquivo público da Bahia e publicada por Santana (2008), tivemos acesso a um registro histórico de casamentos comunitários ocorridos na Serradinha em 1912 e outras informações relevantes para montar o quebra-cabeças que compõe a história de Fátima.  
O documento em questão faz parte do levantamento feito em 1949 pelo município de Bom Conselho a fim de dirimir dúvidas quanto a posse das terras limítrofes com Paripiranga.
Aparentemente foi criada uma comissão para solucionar a disputa de terras entre os dois municípios citados. Vale lembrar que a pequena povoação que mais tarde originaria Fátima ainda não havia sido alçada ao status de Vila, o que só viria a acontecer em 1960.
Parte dos trabalhos da comissão era colher informações sobre a posse das terras em litígio. Boa parte do que hoje é o município de Fátima como Lagoa da Volta, Formigueiro, Serradinha e São Domingos, por exemplo, era disputada pelos dois municípios à época e uma das formas encontradas para esclarecer a questão foi a entrevista de moradores antigos para colher informações. Essas entrevistas foram registradas como declarações apresentadas à justiça, nas quais os habitantes buscavam marcos históricos para determinar a posse das terras.
Uma dessas declarações foi dada pelo cidadão Pedro Correia de Souza Filho, à época com 76 anos. Pedro Correia (Pai de Correinha da Zabumba) nascera em 1873 é um dos primeiros membros da família Correia (que ainda hoje habita a mesma região) a ser registrado como morador da antiga fazenda Lagoa da Volta, outrora propriedade do Barão de Jeremoabo. O barão, inclusive, era seu padrinho e tio.
Vejamos a transcrição parcial do documento:

Eu, Pedro Correia de Sousa Filho, nascido na fazenda Volta, município e freguesia do Bom Conselho, com 76 anos de idade, filho de Pedro Correia de Souza e Lavínia Francisca Dantas (Irmã bastarda do Barão), residente da Fazenda Formigueiro, do mesmo município e paróquia de Cícero Dantas, a bem da verdade, sem coação alguma, venho declarar:

Que entre seus vizinhos conseguiu algumas declarações de casamentos celebrados pelo Padre Vicente na Serradinha, na casa de Chico Preto em 1912: José Gato e Luiza, Antônio Barrigudo e Maria, Francisco Vicente e Mariana, Manoel Nunes e Josefa, Balbina Barra e Teodoro.

O motivo de Pedro Correia citar os casamentos ocorridos na Serradinha é que a celebração foi feita pelo vigário de Bom Conselho, o que indica que aquela região pertenceria ao mesmo município.
Vale lembrar que os padres exerciam grande importância nas questões ligadas à posse das terras. Para se ter uma ideia, o registro de compra e delimitação de uma propriedade rural era feito pelos religiosos, em cumprimento de lei imperial de 1850. Dessa forma, o ato de um padre celebrar o casamento em uma comunidade, significava que aquela pertencia à sua diocese.
Essa documentação é um excelente registro do passado da região. Um dado curioso é que a família Correia habita a região há, pelo menos, 150 anos. Outro fato interessante é a ligação de parentesco entre essa numerosa família e o Barão de Jeremoabo. Em outro trecho da sua declaração é citado:

Lembra-se que seu padrinho de batismo, Sr. Cícero Dantas Martins, Barão de Jeremoabo, por sinal, seu tio, porque sua mãe Lavínia Francisca Dantas era irmã bastarda do Barão.

Pedro Correia de Souza Filho provavelmente está sepultado no cemitério particular da família na Lagoa da volta, essa informação será checada em breve, assim que a família autorizar uma visita à propriedade.
O documento data de 21 de novembro de 1949 e é assinado por Maurício José de Santana.

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