Um
grupo de 4 homens, entre eles dois peritos amadores, deixa Bom Conselho (atual
cidade de Cícero Dantas) após o almoço em direção à fazenda Cajazeiras, tinham
a ingrata missão de periciar o corpo de uma menina de doze anos, brutamente
assassinada a pauladas.
Era 19
de abril de 1874, e a cena encontrada na casa de João Sacerdote do Nascimento
foi terrível. No alpendre da simples casa de taipa, o corpo franzino de uma
menina branca estava estendido, tinha a cabeça esfacelada por golpes de um
porrete de tal modo que os peritos Manoel Joaquim da Silva e Joaquim Dantas de
Miranda não tiveram condições de precisar quantos golpes foram o suficiente
para produzir tamanho estrago.
Além dos
peritos, estiveram na ocasião do exame de Corpo de Delito o subdelegado e
o escrivão, responsável por produzir as primeiras linhas dessa história
ocorrida há mais de 150 anos.
O assassino,
José D’Assunção, era primo da vítima. Censão, como era conhecido, era tido como
um toleirão, era um homem bem mais velho que aparentemente se apaixonou pela
prima de 12 anos. Na época, era comum que uma menina se casasse tão jovem, entretanto,
para a ira de Censão, a opinião da pretendente era levada em consideração.
Ana
morava somente com a mãe e o irmão Antônio, pois seu pai, na época, já havia
falecido, conforme consta no processo crime identificado como 03/85/42, de
posse do Arquivo Público do Estado da Bahia. Sua frieza frente as investidas do
pretendente o levaram a elaborar um plano para o assassinato, mostrando que
ações violentas de homens rejeitados infelizmente não são exclusividades do
nosso tempo.
Os registros
nos permitem concluir que Censão havia planejado o fato, era um homem imaturo
para o seu tempo, o que lhe rendeu o adjetivo “toleirão”, mas era dotado de um
temperamento perverso e calculista. Durante as agressões à menina Ana, não deu
qualquer chance de defesa à vítima, fulminando-a com brutalidade.
Os irmãos
haviam passado aquela noite na casa do seu tio José Martins e pela manhã seguiam
calmamente pela estrada em direção à casa da mãe, sendo abordados durante esse
trajeto.
Entre
os depoimentos que constam no processo, a descrição do menino Antônio é de longe
o mais detalhado e impactante. Perguntado, respondeu ter entre 8 a 9 anos, ser
filho de Pedro Borges Souza de Andrade e Maria do Espírito Santo. Disse que,
vindo da casa do seu tio José Martins para a casa de sua mãe, com sua irmã Ana,
foi surpreendido pelo assassino que saiu do mato, era seu primo, Francisco da
Assunção, conhecido por todos como Censão.
Este, teria
perguntado a Ana a razão da sua frieza e se ela desejava se casar com ele. Diante
da recusa da moça, Censão, tomado de ódio, avançou sobre Ana e desferiu algumas
pancadas em sua cabeça. Ainda tomando como base o depoimento do menino Antônio,
Ana caiu em decorrência das pancas e pediu socorro a ele. Foi nesse momento que
o menino avançou sobre Censão, homem feito, com idade estimada entre 36 e 37
anos.
Antônio
segurou firmemente a arma do agressor, diante da insistência do menino em não
soltar o porrete, a fúria de Censão se volta agora para ele que é violentamente
atingido na cabeça e cai a sangrar.
Ao se
desvencilhar do garoto, o assassino se volta para Ana, agarra-a pelos cabelos e
arrasta para o mato onde conclui o crime. Diante da impossibilidade de defender
ele mesmo sua irmã, Antônio corre até a casa do seu tio para pedir ajuda.
É através
de outra testemunha que sabemos do que ocorre em seguida. Francisco estevão,
então com 60 anos de idade, natural do Bom Conselho afirma que, estando na casa
de João Sacerdote, afirmou que José Martins chegou ao local informando que o
menino Antônio esteva em sua casa, lavado em sangue, e dizia que Censão tinha
matado a sua irmã.
Todos seguem
até a casa de José Martins e, junto com Antônio, decidem ir até o lugar do
crime. Ao chegar ao trecho indicado da estrada, perceberam logo o local por onde
Ana tinha sido arrastada e depois de muito procurarem, encontraram o cadáver em
cima de uma moita de capim, os ferimentos na cabeça da menina faziam sair a
massa encefálica, mas ela ainda respirava. Tomada nos braços, Ana foi levada
agonizando para a casa de João sacerdote, onde morre não muito tempo depois.
Cenção
foi jugado e preso pelo seu crime e cumpriu pena em Jeremoabo, não se sabe as circunstâncias
da sua morte, mas é possível inferir que morreu enquanto cumpria pena,
provavelmente de alguma enfermidade. A perícia em seu corpo é datada de 19 de
junho de 1875, cerca de um ano após a morte de Ana.
A cajazeira,
palco do terrível acontecimento, pertence ao município de Cícero Dantas, fica nas
imediações do povoado Trindade e, de acordo com o pesquisador Marcelo Reis, não
é mais habitada, uma vez que seus antigos moradores hoje vivem nas cidades
vizinhas. Ainda de acordo com Marcelo, seu avô lembra da antiga cruz que marcava
o local da morte, mas hoje toda a área foi transformada em pasto e a
localização da cruz não é mais conhecida.
Moisés Reis, Professor há 24
anos do município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com
especialização em História e Cultura Afro-brasileira pela UNIASSELVI, Mestre em
Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual
Didático do Professor de História - O Nazista - Fátima: Traços da
sua Histórias - O Embaixador da Paz - Maria Preta: Escravismo no
sertão baiano – Últimos Cangaceiros, Justiça, prisão e liberdade - da HQ
Histórias do Cangaço e do documentário Identidade Fatimense.
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Parabéns pelas histórias maravilhosas
ResponderExcluirObrigado
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