O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

A despedida de Correinha da Zabumba.

 

            No último domingo, 2 de janeiro de 2025, Fátima foi palco de uma genuína manifestação cultural que marcou a despedida do mais famoso vaqueiro da cidade. Enquanto vivo, Pedro Correia de Andrade, ou simplesmente Correinha da Zabumba, com era conhecido, dedicou sua vida às expressões da cultura do gado.

          Descendente de antigos vaqueiros e criadores de gado, Correinha, estava sempre acompanhado de algo que demonstrasse o seu apreço a essa arte. Assim, organizou inúmeras missas de vaqueiro, com aboiadores, zabumbas e flautas que soavam ao som do pífano.

          Já na velhice, escreveu cartas e deixou bem claro aos familiares que não queria tristeza em seu velório, recomendou que chamassem cantadores de forró, aboiadores e que em sua despedida houvesse festa.

          Quem já precisou enterrar um ente querido pode imaginar o sacrifício que foi para os familiares que, mesmo enlutados, precisaram cumprir com esse último compromisso, mesmo chorosos, os filhos e filhas, netos e demais parentes fizeram valer a última vontade de Correinha.

Seu sepultamento refletiu o que foi a sua vida, a cidade encheu-se de uma estranha alegria com a presença de carros de boi, vaqueiros montados e trajados coma clássica indumentária, ouviu-se o som inconfundível do berrante de sua filha Marlene, o foguetório insistente, o forró cantado em carros de som que anunciavam o momento singular.

Não se esperava menos do dia em que Fátima teria que se despedir de Correinha, sua família fez valer a personalidade irreverente e única do velho vaqueiro que agora descansa em paz ao lado da sua esposa Nininha. Seu repouso, contudo, não foi no tradicional cemitério dos Correias na Lagoa da Volta, localidade habitada pela família a quase duzentos anos. Questões familiares que não nos cabem discussão impediram esse final.

Toda a família e a comunidade fatimense se despediu do corpo físico de Correinha neste domingo, mas o seu legado e a memória que deixou pra traz continuará povoando o imaginário popular, suas histórias engraçadas continuarão a ser contadas e a tradição já segue adiante com suas filhas e netas.

          As gerações futuras certamente contarão histórias sobre o dia em que a cidade parou para ver um sepultamento diferente de tudo o que já se viu, diferente como foi a vida do seu personagem principal. 

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