Comunista é o pseudônimo que os conservadores e saudosistas do fascismo inventaram para designar todo sujeito que luta por justiça social.
Érico Verissimo.
Linha do tempo
1848- Lançamento de O
Manifesto do Partido Comunista;
1917 - Revolução Russa;
1930 – Revolução que marca o
fim da primeira república;
1935 – Levante comunista;
1937 – Plano Cohen;
1964- Golpe Militar;
1. CONTEXTO
HISTÓRICO GERAL.
De uma forma ou de outro, o
anticomunismo brasileiro vai ter início após a publicação do Manifesto do
Partido Comunista em 1848. Já naquela época, falava-se de uma estranha
ideologia política com ideias exóticas, muito distante da realidade de um país
como o Brasil, uma país que ainda vivia sob a sombra maldita da escravidão.
Nesse período, com efeito, o
distanciamento e o exotismo dos ideais comunistas eram os parâmetros para a
elite letrada brasileira, uma vez que as ideias de Marx e Engels soavam como
algo quase alienígena, mas que, em certa medida, já incomodava os mandatários locais,
na medida em que os faziam sentir ameaçados os seus privilégios. Aqui vale
lembrar que a elite agroindustrial brasileira era composta por linhagens
seculares, com privilégios consolidados.
Mas a distância ainda era a regra, até
que, em 1917 irrompe a revolução russa e pautas como reforma agrária, direitos
dos trabalhadores e outros entram no imaginário popular brasileiro.
Para uma sociedade acostumada ao
sistema escravista, temas como esses eram que tabus intransponíveis. Basta
lembrar a frase de Washington Luiz, presidente da república de 1926 a 1930:
“A
questão social é um caso de polícia”.
Essa fala, proferida pelo então
presidente, reflete como se encaravam todas as questões sociais no Brasil, um
país que ainda carecia de um código de leis trabalhistas e que encarava o
trabalhador como algo meramente descartável. O fantasma dos direitos sociais
significava na cabeça da elite local uma mão-de-obra mais cara, trabalhadores ascendendo
socialmente e ocupando os seus espaços de privilégio.
Chegou-se a afirmar que essa ideologia
não vingaria no Brasil, pois seu operariado seria, de acordo com a concepção
burguesa, “ordeiro e pacífico”. Hostilizava-se o estrangeiro por incutir essas
ideias no país e o medo imperava.
Com a crise de 1929, o capitalismo é
posto em xeque, cada vez mais o liberalismo parecia utópico, a crise arrasou a
economia global, desemprego, fome, miséria e outras mazelas passaram a fazer
parte do cotidiano das pessoas. Na Europa, passou-se a desejar governos mais fortes
e com viés nacionalista, era o que os fascistas esperavam para subir ao poder.
2. SERTÃO
NÃO É LITORAL.
Na
obra GUERREIROS DO SOL, Frederico Pernambucano de Melo defende que no sertão,
apartado do litoral, se formou uma sociedade totalmente distinta. Distanciados
pela geografia e a dificuldade de locomoção, sertanejos e habitantes da atual
Zona da Mata divergiam em quase tudo no quesito comportamento.
Enquanto os que beiravam o oceano
atlântico lutavam para manter um estilo de vida europeu com hábitos refinados e
vestimenta baseada no além-mar, o sertanejo precisava se adaptar à dureza do
meio, vestindo-se como as condições econômicas permitiam e trajando pesadas
roupas de couro, verdadeiras armaduras contra a espinhosa caatinga na qual se
embrenhavam atrás do gado.
Ainda de acordo com o mesmo estudioso,
dois meios de vida e, por consequência, dois indivíduos, se desenvolveram no
sertão, ambos resistentes e duros. Enquanto os agricultores resistiam
fisicamente ao sol e aos desafios da seca, o vaqueiro se forma como um
indivíduo ainda mais rude. Para este, a lida com o gado imprimia em si um
sentimento de nomadismo, uma vez que a parca estrutura das propriedades o
obrigava a mudar-se constantemente em busca de novas áreas de pastagens.
A lida com o gado e os embates com os
indígenas o fez resistente e destemido, o ambiente o fez desconfiado, a pobreza
gerava violência e em um ambiente onde rusgas se resolviam na ponta da faca ou
na boca do Cravinote (Bacamarte, em outras regiões), a confiança era um luxo e
o apego pela arma era fundamental.
A ausência dos mecanismos de coerção
estatal como a justiça e as polícias, criou nesse povo um sentimento de
injustiça e a lei era feita sob a égide das suas próprias mãos, detinham um
acurado sentimento de autodefesa e um código de ética primitivo aos olhos de
quem não conhecia. Cultivaram um tipo de catolicismo místico, extremamente
fanatizado.
Para SANTOS, 2024, esse ambiente deu origem
ao sentimento de que matar não é crime, não somente pela noção da lei do mais
forte, mas pela necessidade de autodefesa, física e, por vezes, da sua própria
honra ou dos seus.
3. COMO O
ANTICOMUNISMO FOI PROPAGADO NO SERTÃO?
As ideias anticomunistas vão acessar o sertão a
partir de dois caminhos ao mesmo tempo distintos e correlatos. O primeiro e mais
convincente, vem a ser a igreja católica e o discurso persuasivo dos padres.
O segundo, que não perdia a oportunidade de
citar as encíclicas e os sermões dos vigários, era a imprensa interiorana,
representada pelos jornais locais de circulação intermunicipal. Nesse capítulo,
analisaremos a ambos, iniciando pela importante e eficiente ação encabeçada
pela igreja católica e seus sacerdotes.
Cenas dos próximos capítulos ...
Moisés Reis, Professor há 22
anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com
especialização em História e Cultura Afro-brasileira pela UNIASSELVI, Mestre em
Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual
Didático do Professor de História, O Nazista, Fátima: Traços da
sua Histórias, O Embaixador da Paz, Maria Preta: Escravismo no
sertão baiano, e da HQ Histórias do Cangaço e do documentário Identidade
Fatimense.
Contato |
|
Fone |
75 – 99742891 |
E-
mail. |
moisessantosra@gmail.com |
Nenhum comentário:
Postar um comentário