Aspecto atual da capela da Tabua. Fonte: Página Povoado Tabua.
Por mais de uma vez ouvi essa pergunta de diversas pessoas,
o que aponta que essa ideia já é propagada há muitos anos entre os habitantes
locais e pessoas com contato na região do arruado denominado Tabua, parte do município
de Fátima, próximo à fronteira com o município sergipano de Poço Verde.
Diante desses questionamentos, fui investigar mais a fundo
essa ideia a fim de dirimir as dúvidas e buscar fundamentos históricos que confirmem
ou neguem essa ideia.
Em anos de pesquisa, nunca tinha me deparado com nenhuma
evidência histórica que pudesse fundamentar isso e como busco ser o mais fiel
possível à ciência histórica, a minha resposta para os que me questionavam ser
a Tabua o povoado mais velho de Fátima sempre permeou o viés das fontes
históricas e da ausência de evidências para afirmar isso de forma segura, sem
correr o risco de afirmar algo que não se sustente e que, no futuro, possa ser
negado pelo surgimento de novas evidência. Afinal, como eu sempre digo, a
história não pode servir aos interesses de ninguém.
Tomando como base as únicas fontes que conheço que podem
citar esse povoamento, busquei atentamente por qualquer texto ou documento que
pudesse trazer novas informações, tendo sempre como base aquilo o que a
oralidade das pessoas nos oferece.
Assim, fui buscar nos registros eclesiásticos de terras se
havia alguma menção ao povoado no século XIX. Essa documentação, nos mostra os
registros de compra e venda de propriedades naquele século, em nome de quem uma
determinada área estava registrada.
Assim, constatei que, em 1856, essa área constava ter dois proprietários
e ser uma área dividida em duas propriedades distintas: Tabua de Cima, de
propriedades de Manoel Joaquim de Santa Ana (originalmente o sobrenome Santana
se escrevia assim, separado) e Tabua de baixo em nome de Paulo Cardoso de
Menezes.
Essa não é necessariamente uma novidade, visto que outras
áreas que hoje pertencem ao município de Fátima, têm seus registros já nessa
época e até mesmo anteriores a isso.
As informações mais significativas na tentativa de elucidar
essa dúvida, contudo, estão nos registros dos livros de Tombo da Igreja de
Nossa Senhora do Bom Conselho, em Cícero Dantas.
Observando atentamento os escritos produzidos pelo vigário
José de Magalhães e Souza, podemos tirar informações muito importantes acerca
desse assunto.
A primeira menção ao local Tabua existente nessa
documentação, data de outubro de 1931, quando o padre Magalhães registra
simplesmente ter visitado o local em desobriga. Desobriga era como se
chamavam as missões dos padres católicos a localidades remotas da sua área de
influência. Nessas visitas à pessoas distantes da matriz, se realizavam rituais
católicos como batizados, crismas, casamentos, etc.
Essa foi, aparentemente, a primeira passada desse religioso
em particular pelo local, o que inaugurou uma surpreendente sequência de vistas
posteriores. Entre 1931 e 1937, o padre Magalhães registrou um total de 10
situações nas quais esteva na Tabua em desobriga.
Em uma dessas visitas, uma informação crucial é registrada
pelo religioso. Em fevereiro de 1935, o padre registra que celebrou na capela
da localidade e esse registro nos revela que a capela da Tabua é mais antiga
que a própria igreja de Fátima, uma vez que o primeiro registro de uma missa na
área que hoje é a zona urbana do município é datada de 20 de outubro de 1935 e
essa missa, provavelmente, foi celebrada em casa de particulares, não numa
capela.
Abaixo, uma lista com as datas das visitas à Tabua registrada
pelo Padre Magalhães:
1-
Outubro de 1931;
2-
Janeiro, junho e novembro de 1932;
3-
Janeiro e agosto de 1934;
4-
Fevereiro, abril e novembro de 1935;
5-
Novembro de 1937.
Essa sequência
de desobrigas, provavelmente significa que, na região da Tabua dos anos 1930,
existia uma (ou mais de uma) família com boas condições financeiras e com boas
relações com o Padre Magalhães, que os visitava com certa frequência. Tomando
como base a distância que o vigário percorria de Cícero Dantas, muitas vezes
montado a cavalo, para acessar a área, é possível depreender que havia ali algum
atrativo importante, como boa receptividade dos moradores, bom local de pouso,
bom número de pessoas a quem oferecer os serviços eclesiásticos, etc.
Todas
essas informações, entretanto, não confirmam ser a Tabua o povoado mais antigo
de Fátima, visto que localidades como Pedrinhas, Laje da Boa Vista, Cutia,
Maria Preta e mesmo a área urbana do município, têm povoamento confirmado muito
anterior a isso, já na segunda metade do século XIX.
Há indício,
contudo, que a área do atual povoado Tabua, pode ter surgido em virtude de uma
antiga rota entre Itapicuru e o sertão baiano, passando por Poço Verde. Se isso
é verdade, pode ser que o arruado atual tenha surgido entre o final do século e
XVIII e início do XIX, mas tudo isso ainda não passa de especulação e carece de
robustez histórica.
Esse estudo,
contudo, confirma, que a capela da Tabua foi erguida em algum momento entre
1931 e 1935, caracterizando aquele templo religioso como a capela mais antiga
do município, ao menos até o presente momento. Desse título, a Tabua já pode se
orgulhar.
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