História do Sertão

O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Povoado Monte Negro – Fátima/Bahia e a Lei de Terras de 1850.


 

Após a implantação da Lei de terras, que obrigava os posseiros a registrar e pagar pelos registros de terras no Brasil, uma verdadeira romaria se verifica em toda essa região.

          A razão para isso é que, antes da dita lei, todos os ocupantes de terras no Brasil não eram necessariamente donos, tinham apenas o direito concedido pelo império de nela trabalhar.

          Com a vigência da lei de terras (18 de setembro de 1850), todos os posseiros tiveram que buscar a regularização das propriedades, o que levou a uma procura muito grande pelos padres da região, uma vez que os registros só poderiam ser feitos pela igreja, maior representante do estado nos sertões.

          O vigário de Cícero Dantas, Caetano Dias da Silva (Hoje sepultado no altar da igreja de Nosso Senhora do Bom Conselho) foi o responsável pelo registro de um sem-número de fazendas e fazendolas em toda a região.

          Na matriz do Bom Conselho ou de Patrocínio do Coité (atual Paripiranga), o vigário era requisitado para os trâmites de registros, que consistiam quase que exclusivamente na boa fé depositada nos registrantes, isso porque, para registrar uma terra na época, era necessário simplesmente procurar o vigário mais próximo, relatar a compra de uma propriedade, o valor pago e a quem pagou e descrever a área, delimitando os marcos naturais ou artificiais que marcavam as fronteiras da propriedade em questão.

          Assim, no dia 21 de abril de 1859, o vigário Caetano Dias recebe em Cícero Dantas João José Leite, empregado de João Dantas dos Reis, avô do Barão de Jeremoabo, para registrar as fazendas Lages e Tabuleiro, registro que custou aos Dantas dois mil e quinhentos réis.

          Na descrição dos limites das fazendas, um marco natural chama a atenção para quem é de Fátima e região, isso porquê, a fazenda Tabuleiro iniciava, segundo o registrante, na “Serra do Monte Negro” e descia na direção dos tabuleiros das Queimadas.

          Trocando em miúdos, a dita Serra do Montenegro, é a elevação onde hoje se encontra o povoado Monte Negro e a fazenda iniciava ali e rumava na direção do município vizinho de Adustina. Era uma propriedade de 3 léguas de extensão, isto é, cerca de 18 km.

          Além da enormidade da extensão das fazendas, chama a atenção o fato de o povoado Monte Negro ser assim chamado em razão de ter herdado o nome do acidente geográfico no qual está fincado, nome esse, dado ainda pelo colonizador a fim de se situar na vasta paisagem sertaneja. 

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Documento de compra da fazenda Mundo Novo.

 

No dia 16 de julho de 1857, o produtor José de Souza Quirino procurava a igreja para registrar a compra da propriedade Mundo Novo. Essa área de terra ainda hoje conserva a mesma denominação e nos tempos atuais, apenas a região que vai do fundo da praça Ângelo Lagoa até as imediações do povoado Quirinos, carrega esse nome.

É provável que tenha sido por essa data que o sobrenome “Quirino”, apareceu na região. A propriedade foi comprada ao Capitão Antônio Ferreira e tinha como limites:

 

Que principia na cabeceira da baixa dos tanquinhos, onde chega às terras de Aniceto Rodrigues, rumo direito para a Nascente para o antigo curral falso do mandacaru e daí voltará por cima deste dito alto a Serra do Mocó onde tem um trabalho abaixo da malhada do dito marco por esta serra acima a cabeceira do saco dos Tamburis rumo direito a beira da baixa da Gitirana, daí voltará para onde principia esta demarcação. Sua extensão é de meia légua, pouco mais ou menos.

 

No trecho acima, temos a menção mais antiga que conheço ao termo “Serra do Mocó”. Essa área consiste no acidente geográfico onde estão localizadas as torres de telefonia da cidade. É possível notar também no fragmento acima a menção ao termo “Gitirana”. Essa denominação, que se refere a área a meio caminho do povoado Capim Duro (partindo da sede do município) já era conhecida, mas havia dúvidas se era referente à mesma área citada, o que fica assim confirmado que a Gitirana como a conhecemos já tem esse nome desde, pelo menos, 1857 (167 anos atrás).

 Outro detalhe interessante é que a assinatura do documento foi feita em Paripiranga, mesmo fazendo parte de Bom Conselho (Cícero Dantas). Isso acontecia porque, nesta época, os documentos de registros de terras eram feitas pelos padres e na impossibilidade de ir à Bom Conselho por qualquer razão, fazia-se a escritura em Paripiranga, que na época se chamava patrocínio do Coité.

O vigário que assina, Caetano Dias, foi pároco de Cícero Dantas entre os anos de 1836 e 1883. Ele está sepultado no altar da igreja da cidade, ao lado do seu antigo desafeto político, o Barão de Jeremoabo.

 

Abaixo, segue a transcrição na íntegra do documento:

 

Registro n° 411

O abaixo assinado em cumprimento da lei vem registrar um pedaço de terra que possui no lugar denominado Mundo Novo comprado ao Capitão Antônio Ferreira nesta freguesia de Nossa Senhora do Bom Conselho, cujas demarcações são as seguintes: Mundo Novo, 16 de julho de 1857.

Que principia na cabeceira da baixa dos tanquinhos, onde chega às terras de Aniceto Rodrigues, rumo direito para a Nascente para o antigo curral falso do mandacaru e daí voltará por cima deste dito alto a Serra do Mocó onde tem um trabalho abaixo da malhada do dito marco por esta serra acima a cabeceira do saco dos Tamburis rumo direito a beira da baixa da Gitirana, daí voltará para onde principia esta demarcação. Sua extensão é de meia légua, pouco mais ou menos.

 

José de Souza Quirino

Antônio José das Virgens

 

Foi-me entregue pelo possuidor acima o presente exemplar que depois de conferir-lhe e acha-lo igual e em ordem, registrei com número quatrocentos e onze, recebendo do possuidor acima a quantia de mil e oitocentos e quarenta réis.

 

Patrocínio do Coité, 17 de julho de 1857. O vigário Caetano Dias da Silva 

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Dadá deixa a “prisão”



 

Fonte: O cruzeiro.

Como é de conhecimento daqueles que se interessam pela temática do cangaço, Sergia Ribeiro da Silva, a Dadá foi encaminhada para a capital baiana após a morte do seu companheiro Corisco. Em Salvador, a prisioneira deu entrada no Hospital Santa Isabel, onde permaneceria durante cerca de dois anos como paciente/prisioneira.

Amputada da perna direita em decorrência dos ferimentos causados pela volante de Zé Rufino, Dadá passou por um período difícil de desamparo, até implorar ao famoso rábula Cosme de Farias que intercedesse em seu favor.

Ao longo de cerca de 7 meses, Cosme de Farias e o advogado Batista Augusto de Barros, se empenharam em sua defesa, com a finalidade que a ela fosse concedida a liberdade condicional.

Várias estratégias foram utilizadas pela defesa para essa finalidade, entre as quais, encontrar alguém disposto a oferecer abrigo à ex-cangaceira a fim de alegar residência física em Salvador.

Finalmente, a 26 de junho de 1942, Dadá deixa o Hospital Santa Isabel para jamais retornar à unidade como prisioneira.

 

O processo-crime de Dadá, de Volta Seca e dos cangaceiros do grupo de Ângelo Roque, são analisados profundamente no livro ÚLTIMOS CANGACEIROS, JUSTIÇA, PRISÃO E LIBERDADE, que será lançado no início de 2025. Entenda como esses ex-cangaceiros prestaram contas à justiça baiana.

 

Fonte: APEB.

Moisés Reis, Professor há 22 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira pela UNIASSELVI, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista, Fátima: Traços da sua Histórias, O Embaixador da Paz, Maria Preta: Escravismo no sertão baiano, e da HQ Histórias do Cangaço e do documentário Identidade Fatimense.




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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

As primeiras famílias da região.


 Durante boa parte da história do Brasil colônia, as pessoas não eram donas das terras, isto porque, antes de 1850, todas as terras pertenciam a união e o Estado Imperial concedia o direito de explorar as terras para alguns indivíduos que deveriam pagar pelo direito de plantar ou criar animais.

A partir de 1850 o Brasil institui e Lei de Terras, que possibilitou àqueles que tinham condições financeiras adquirir terras comprando-as do estado. Por aqui, em 1856, o Padre Caetano Dias (sepultado na igreja de Cícero Dantas) inicia os registros das propriedades da região, dando a posse aos seus novos donos.

É aí que temos os registros das primeiras linhagens familiares que chegaram à atual região semiárida entre Bahia e Sergipe. Nos registros eclesiásticos de terras, constam os nomes das primeiras fazendas, cujos compradores traziam cognomes que ainda hoje habitam a mesma área. Nomes como Dantas, Reis, Nascimento, Pereira, Cruz, Abreu, Sant’ Ana (que com o tempo passaria a ser grafado unicamente como “Santana”), Carvalho, Chagas, Costa, Silva, Andrade, Jesus, Freitas, Cruz, Souza, Santos, Moreira, Silveira, Borges, Rodrigues, Barros, Lima, Espírito Santo, Melo, Correia, Oliveira, Félix, Gonçalves, Martins, Ribeiro, Damascena, Nolasco, Vieira, Andrade, Menezes, Bispo, Araújo e tantos outros são exemplos dos desbravadores desta parte do Sertão e você e eu somos os descendentes desses desbravadores.


Moisés Reis, Professor há 22 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira pela UNIASSELVI, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista, Fátima: Traços da sua Histórias, O Embaixador da Paz, Maria Preta: Escravismo no sertão baiano, e da HQ Histórias do Cangaço e do documentário Identidade Fatimense. 



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quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Davi


 Por volta do ano de 1870, chega à Vila do Bom Conselho (Atual cidade de Cícero Dantas), David José dos Santos, um homem de estatura baixa e corpulento, oriundo da cidade de Água Branca, nas alagoas. Davi, como ficou conhecido na região, chegou a atuar como jagunço de Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo, tinha fama de matador e se instalou na região chamada Lagoa de dentro. Em Bom Conselho praticou diversos homicídios, era um homem frio que agia sozinho, não há registros de grandes assaltos de sua autoria, era o típico valentão que as vezes matava por pura diversão. Chegou a ser preso por várias vezes e fugiu outras tantas, tendo registrado, inclusive, fugas da penitenciária da Bahia, hoje Hospital de Custódia, na capital.

          Por ser aliado do Barão, David era inimigo declarado de um desafeto de Cícero Dantas Martins. O vigário da cidade, o Cônego Caetano Dias (Hoje sepultado no altar da igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho) era adversário político de ambos. David jurou assassinar o padre e por diversas vezes tentou sem sucesso uma tocai para o religioso.

          O fim do Bandido alagoano veio pelas mãos de um aliado, por nome Inacinho, trazido à Bom Conselho pelo próprio David. Inacinho recebeu vultosa quantia para matar o amigo e traiçoeiramente o trucidou a golpes de machado enquanto dormia em uma rede e o sepultou próximo a uma gruta que ainda hoje é conhecida pelos habitantes da Lagoa de Dentro, o lugar atualmente é conhecido com Lagoa do David, uma lembrança do passado violento daquela área. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

A Família Bizá.

Fonte: Fátima de Outrora.

De acordo com o pesquisador Juan Kléber, os Bizá (como eram conhecidos) são antigos moradores de Fátima. Pelo que consegui rastrear, essa família já vive sobre este solo desde o século XIX, tendo como ancestral mais antigo Lourenço Bizá. A casa da família ficava onde hoje é a saída da cidade no sentido Paripiranga, era parada de viajantes vindos de Sergipe.

A história dos Bizá é quase que completamente baseada na oralidade, tendo pouca documentação a respeito, uma delas é a rara foto acima publicada originalmente na página Fátima de Outrora. Para além disso, pude garimpar alguns registros de indivíduos que assinavam o cognome “Bizá” em documentos oficiais.

É o caso de José Febrônio dos Reis Bizá, que aparece como testemunha de dois casamentos, um ocorrido em 1906 e outro em 1910, esses registros são parte do acervo histórico da Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho em Cícero Dantas. Situação semelhante ocorre com Raimundo Ribeiro de Castro Bizá, que se casou com Josefa Germana de Santana em 14 de fevereiro de 1906 e teve um parente como testemunha, José Ribeiro de Castro Bizá.

Além de Fátima e Cícero Dantas, há vestígios desse sobrenome em indivíduos da região da Maranduba, na cidade vizinha de Heliópolis e em Simão Dias-SE. O cognome tem origem desconhecida, mas é provável que seja uma variação do sobrenome “Bizet” de origem Francesa e teve sua escrita ressignificada para o sobrenome Bizá.


Moisés Reis, Professor há 22 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira pela UNIASSELVI, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista, Fátima: Traços da sua Histórias, O Embaixador da Paz, Maria Preta: Escravismo no sertão baiano, e da HQ Histórias do Cangaço e do documentário Identidade Fatimense.



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sábado, 12 de outubro de 2024

Chico de Anjo

Foto: Fátima de Outrora

        Francisco Virgílio de Souza nasceu em 1895, casou-se com Maria Francisca de Souza no dia 28 de novembro de 1923, foram testemunhas do matrimônio Francisco Vieira de Andrade e José Barbosa das Virgens. Era talvez o mais bem sucedido dos filhos de Ângelo Lagoa e Porfíria. Chico de Ânjo e Dona Maria criaram grande família. Os seus filhos (que aparecem na foto publicada por @Fátima de Outrora) são: Joaninha de Antonio Barbeiro, Nita de Zequinha de Antero, Dezi de Ferreira de Nenem, Terezinha de Alfredo Nocencio, Zefinha de Manelinho, Dedé, Enoque de Alice, Ferreirinha de Marizete e Dazinha de Pedro de Antonio Tatá. Viveu a maior parte da vida na atual Praça Ângelo Lagoa, na residência construída próxima à casa dos pais. 



Foto: Fátima de Outrora.



Texto Produzido por Moisés Reis e Juan Kléber Menezes