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Entre a cruz e o fuzil: povoamento, poder e violência no Semiárido Nordeste II

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  Imagem: https://br.pinterest.com/pin/577727458418599866/ Em meados do século XIX, o regime de sesmarias ainda regia a relação do homem comum com a terra no Brasil. Nesse sistema, herdado do período colonial, o Estado português concedia o direito de posse a quem se comprometesse a ocupar e produzir. Na prática, apenas a Coroa era a proprietária efetiva: os ocupantes eram posseiros e deviam forro à monarquia. Com a independência, em 1822, esse regime entrou em crise. Somava-se a isso a decadência de antigas casas senhoriais, como a Casa da Torre, que perderam parte de sua influência no interior nordestino. Nesse contexto, a promulgação da Lei de Terras (1850) redefiniu a relação com o solo: a terra transformou-se em mercadoria, acessível apenas mediante compra. O objetivo era claro — excluir imigrantes pobres e ex-escravos do acesso à terra, reservando-a às elites endinheiradas e consolidando ainda mais as desigualdades sociais. No sertão fronteiriço da Bahia com Sergipe, ...

Gigantes de metal em solo fatimense

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  Foto, Moisés Reis.   Usina de Xingó. Quem passa pela BA-220, em direção a Paripiranga, nas imediações de Belém de Fátima, Aroeiras, pelo trecho próximo ao entroncamento de Adustina, pode se surpreender com uma cena pouco comum para essa região. Em meio às lavouras de milho que nesta época do ano exibem o tom seco e amarronzado do fim de safra, erguem-se estruturas metálicas que chamam a atenção de longe, especialmente na direção do povoado Jurema. Essas torres de aço fazem parte de uma das maiores obras de infraestrutura elétrica atualmente em curso no Nordeste: a Linha de Transmissão Xingó–Camaçari. Trata-se de um empreendimento que ligará a usina hidrelétrica de Xingó, no município sergipano de Canindé de São Francisco, às margens do rio São Francisco, até o grande polo industrial de Camaçari, na Bahia. Orçada em valores que variam entre 1,2 e 2,3 bilhões de reais, a linha terá cerca de 350 quilômetros de extensão, atravessando municípios baianos como Inhambupe, Aporá,...

CARTA DE SEVERO CORREIA, 1898.

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 O documento a seguir é uma amostra valiosa de como era a vida na região há 127 anos . À época, homens de negócios se comunicavam pelas vias possíveis, já que o serviço de correios só seria criado oficialmente em 1969 . As cartas — ou “missivas”, como se dizia — eram enviadas por “positivos” , isto é, portadores de confiança. Esse serviço podia ser realizado por funcionários de fazendas, conhecidos que estivessem prestes a viajar ou até mesmo por tripeiros (comerciantes ambulantes). A carta foi escrita por Severo Correia de Souza , da Fazenda Maria Preta , localizada onde hoje funciona o Pisa Macio . O destinatário era Cícero Dantas Martins , o Barão de Jeremoabo , que, ao que tudo indica, estava hospedado em sua propriedade no Bom Conselho — provavelmente no sobrado onde hoje está instalada a Rádio Regional , edifício no qual faleceria alguns anos depois. Um dos pontos mais relevantes do documento é a disputa por terras . Em uma região afastada dos grandes centros urbanos e com...

Descrição da Maria Preta nos anos 1950.

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  As informações que possibilitaram essa postagem, foram retiradas do documento identificado pelo código 09/4037/20, de posse do Arquivo Público do Estado da Bahia. Trata-se do inventário do pai de “Nonato da Lagoa”, Camilo Bento de Oliveira. Camilo Bento Nasceu em 1892 no Rochão, região da Mata de Paripiranga, era filho de João Bento de Oliveira e Josefa Ferreira de Oliveira. Adquiriu a Maria Preta por volta dos anos 1930, já era casado com Judite Eulina de Oliveira e tinham os filhos: Josefa Francisca Oliveira, Maria Bento de Oliveira, José Bento de Oliveira, João Bento de Oliveira, Ana Bento de Oliveira, José Nonato de Oliveira (era solteiro e tinha 24 anos quando o pai faleceu), Josefa Pequeno de Oliveira e Pedro Bento de Oliveira. O inventário foi aberto pela viúva após a morte de Camilo Bento no dia 7 de julho de 1959. Entre as propriedades do falecido estavam a Maria Preta, adquirida anos antes junto aos Netos do Barão de Jeremoabo Arthur e Adelaide da Costa Pinto Dantas...

NAÇÃO e SÍTIO, águas que testemunharam o princípio de Fátima.

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  NAÇÃO e SÍTIO, águas que testemunharam o princípio de Fátima.   Após a carta régia de 1701 que direcionou a criação de gado para o sertão, as primeiras estradas (caminhos do boi) começaram a ser abertas, eram veredas que serviam para o transporte do gado que engordava no sertão e era conduzido para o abastecimento dos mercados de carne no litoral.  Como não havia tecnologia para refrigeração, as únicas formas de fazer com que a carne chegasse aos locais de consumo no litoral era a produção da carne seca ou a condução dos animais vivos até os locais de abate, sendo essa segunda técnica utilizada em larga escala. Quem conhece o sertão, sabe que nessa zona existem apenas duas estações, uma seca e outra chuvosa. Essa peculiaridade climática, obrigava o sertanejo a construir estruturas rudimentares para preservar a preciosa água que fluía nas enxurradas durante o período chuvoso. Inicialmente eram estrutura simples, construídas informal e coletivamente. Próximos a córre...

ASSOMBRAÇÃO DA MARIA PRETA

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  A área onde existia a antiga fazenda Maria Preta carrega há muito tempo uma aura pesada, uma sensação de que algo de muito ruim aconteceu ali. Desde tempos imemoriais que as pessoas relatam visões inexplicáveis, sensações estranhas ao passar por determinados trechos da estrada que liga a região do João Barbosa e a zona urbana do município, sobretudo nas imediações do Pisa-macio.           Entre sensações estranhas e visões inexplicáveis, existem relatos de avistamentos de pessoas ou animais que desaparecem misteriosamente, causando pavor em algumas pessoas. Quando eu era criança, sempre evitava andar por aquela região de tanto ouvir falar de assombrações.           Assombrações, “malassombros”, “paracé”, alma pena. Muitas são as denominações, muitas são as formas que o sertanejo tem de se referia ao inexplicável.           O meu blog fala de histó...

Mais um filho de Ângelo Lagoa e Porfíria:

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  Francisco Virgílio de Souza nasceu em 1896, na atual Praça Ângelo Lagoa, era o 6° filho do casal fundador. Casou com Maria Francisca de Souza no dia 28 de novembro de 1923, quando Fátima ainda se chamava Mocó. O casal teve nove filhos que deixaram um grande número de descendentes.