Em diversos
locais do sertão, não é difícil visualizar pedras cuidadosamente colocadas em
cima de túmulos ou mesmo nas capelinhas que marcam o local da morte de alguém. Não
é difícil imaginar que a maioria das pessoas que praticam esse antigo costume
não faz ideia da razão para essa prática.
O que
poucos sabem é que é esse um costume judeu, trazido ao Brasil há séculos pelos
chamados Cristãos-novos, judeus convertidos forçosamente ao catolicismo.
No
judaísmo tradicional, o ato de colocar pedras sobre túmulos ao
visitar um cemitério é uma prática de origem muito antiga, provavelmente ligada
às vivências de povos do deserto. Além de indicar respeito pelos mortos e
marcar a presença de quem visita, as pedras ajudavam a manter o túmulo visível
e protegido contra animais ou erosões em solos arenosos. Essa simbologia
atravessou gerações e migrou junto com os judeus para diferentes partes do
mundo.
No Nordeste brasileiro,
sobretudo no Sertão, chegaram cristãos-novos (judeus convertidos à força ao
cristianismo durante a Inquisição) que carregavam traços de práticas e memórias
judaicas – muitas vezes diluídas ou sincretizadas. Em regiões áridas como o
Sertão, o ambiente de caatinga com sua paisagem pedregosa poderia ter
facilitado a preservação, mesmo que inconsciente, desse gesto cultural. Assim, a
presença de pedras em túmulos no semiárido pode dialogar com uma tradição
ancestral de marcar a memória e a visita aos mortos,
incorporada ao contexto sertanejo sem necessariamente ser reconhecida como uma
herança judaica direta.
A
pedra tem ainda uma simbologia importante, diferente as flores que se esvaem
com alguns dias, as pedras são permanentes, representando a durabilidade da
memória dos que se foram.