Em
carta escrita pelo padre Renato Galvão, no dia 4 de outubro de 1954, missiva
endereçada ao deputado João da Costa Pinto Dantas, foi registrado o curioso dia
em que João Maria de Oliveira, adversário político do padre naquela ocasião,
quase precisou se entender com o famoso matador de cangaceiros, o tenente José
Osório de Farias, conhecido com Zé Rufino.
Para
entender o contexto, é preciso lembrar que naquele ano, o cangaço já havia
acabado e Zé Rufino gozava de enorme prestígio pelos seus feitos durante os
tempos do combate ao banditismo. Naquela data, acontecia a eleição para
prefeito de Cícero Dantas, pleito vencido por João Batista de Andrade Souza, da
UDN com 1374 votos, e a seção eleitoral de Fátima, que funcionava no atual
prédio da Prefeitura, era famosa pelas confusões entre os grupos políticos
rivais.
Sabendo
disso, o Padre Renato buscou se precaver e solicitou junto às autoridades a
presença de ninguém menos que Zé Rufino, a fim de garantir que os trabalhos
corressem dentro da normalidade.
Acontece
que o famoso oficial, por alguma razão, não atendeu ao chamado do Padre e a
problemática seção eleitoral ficou sem a autoridade policial desejada pelo
vigário.
O que
se segue, de acordo com o relato do religioso na dita carta é um caos promovido
pelo então soldado João Maria e o subdelegado João Neves. (Foto).
De
acordo com a página Fátima de Outrora, João Neves foi comerciante e delegado
leigo do distrito de Fátima por muitos anos, faleceu em 1984.
Ainda
de acordo com o relato da carta do Padre Renato, Dona Ludi era a presidente da
mesa e João Maria teria usado isso em seu favor, coagindo eleitores adversários
e espalhando boatos de pânico provocando o retorno antecipado de eleitores para
casa, muitos não chegaram a votar.
Eram 600 votantes naquela seção que, devido
aos contratempos provocados por João Maria e o Subdelegado, tiveram apenas três
horas para concluírem a votação em cédula da época o que, naturalmente,
provocou alta abstenção em uma seção que tinha muito mais votos para o
candidato do Padre, adversário de João Maria e João Neves. Diante disso, O
vigário finaliza a carta pedindo a intervenção do deputado no sentido de anular
a votação e realizar novo pleito.
O fato
a ser registrado aqui é um quase encontro entre a mais famosa liderança
política de Fátima e um personagem importante da história do cangaço. Encontro
que só não aconteceu (ao menos não dessa vez) pela ausência de Zé Rufino.
Obviamente
esse texto não visa atacar a imagem de nenhum dos personagens envolvidos nessa
história, o que busco, tão somente, é trazer o relato aos leitores do blog e
deixar o registro de mais um episódio da nossa história.