O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

A Praça Ângelo Lagoa já ultrapassa os 100 anos.

Imagem wikipédia

 

Hoje sabe-se que a chegada de Ângelo Lagoa ao que hoje é a praça da cidade que carrega seu nome é estimada para o final do século XIX. Em favor dessa teoria, estão os nascimentos de alguns dos seus filhos, como Emília Maria, que nasceu em 1894. A primeira filha do casal Ângelo e Porfíria, chamava-se Josefa Maria de Jesus e nasceu no ano da abolição da escravatura, 1888 e ao que consta, todos os filhos do casal nasceram na primeira casa por eles construída na atual Praça Ângelo Lagoa.

A construção da casa da família é a razão pela qual Ângelo e Porfíria são considerados os fundadores da cidade, pois foi no entorno desta que outras moradias foram sendo construídas e, com o passar dos anos, foi-se formando a atual praça.

Essa informação é relevante pois é importante salientar que, muito antes da construção da referida casa de moradia, outras edificações semelhantes já existiam no atual território de Fátima. Para compreender isso, o leitor precisa considerar que existiam muitas fazendas espalhadas pela redondeza e essas também possuíam suas casas, edificadas ainda na primeira metade do século XIX.

Em favor desse argumento, temos em mãos um documento muito importante, produzido pela Igreja Católica e arquivado em Salvador, no Arquivo Público do Estado. É este chamado de Registro Eclesiásticos de terras, escrito pelo antigo vigário de Cícero Dantas, o Cônego Caetano Dias. É este documento que nos mostra que essas fazendas já existiam em 1856 e boa parte delas, com moradores permanentes.

O caso mais famoso a meu ver é a Fazenda Maria Preta, propriedade de Severo Correia de Souza. A Maria Preta foi uma propriedade rural voltado à criação de gado e com uso de mão-de-obra escravizada. Severo se casou com Líbia na Lagoa da Volta em 30 de setembro de 1861 e veio morar na Maria Preta, onde hoje é o Pisa Macio.

Existem dados de outras pessoas que nasceram em fazendas nas imediações da zona urbana de Fátima em datas anteriores, como Joaquim Francisco dos Reis, nascido nas Pedrinhas em 1878 e os próprios filhos de Severo, nascidos na Maria Preta, João Severo de Souza, nascido em 14 de julho de 1869 e Francisca de Souza, nascida em 21 de setembro de 1890. O mais antigo morador já rastreado nessa região, contudo, é Manoel Lins Barreto, nascido na Fazenda São Domingos, atual povoado São Domingos a 20 de setembro de 1800.

Mas voltando ao início da Praça Ângelo Lagoa, como já afirmado anteriormente, foi a partir da residência que hoje pertence à Cidinho de Zelitão, que foram sendo construídas outras casas de parentes e, logo em seguida, conhecidos foram adquirindo nacos de terra ao redor, formando um quadrado em volta de um centro vazia de chão batido, dentro do qual foi erguido o barracão que, já em 1935, abrigaria a feirinha.

A julgar pelas datas de nascimento dos filhos e do próprio Ângelo, é possível cravar a data da construção da casa entre os anos de 1800 e 1888, o que faz desse importante marco histórico, uma construção bastante antiga.

Se no entorno desta construção, foi se formando a primeira praça, o mesmo não aconteceu com as primeiras fazendas. Voltando ao caso da Maria Preta, após a morte de severo, a propriedade ficou praticamente desabitada, só sendo repovoado no final do século XX. Mas há também casos distintos, uma vez que diversos povoados do município se originaram das antigas fazendas e permanecem habitados ainda nos dias atuais, como é o caso dos Paus Pretos, Monte Negro, São Domingos e muitos outros arruados que antes eram fazendas e que permaneceram povoados por famílias que ainda hoje residem nas terras dos seus ancestrais.

Muitos moradores de Fátima ainda se referem à Praça Ângelo Lagoa como “Rua Velha”. Essa denominação provavelmente se deu a partir do desenvolvimento da atual Av. N. S de Fátima, que passou a ser chamada de “Rua Nova”.

Ao longo dos anos os eventos que ocorriam na cidade tinham a praça como palco. Circos, parques de diversão, as “Ondias” – Brinquedo de diversão primitivo, constituía-se de uma grande roda de ferro e madeira que girava em torno de uma base fixa, as primeiras “ondias” eram movidas pela força dos homens que nela trabalhavam, as mais modernas, já nos anos 1990, eram movidas por um motor elétrico - e conjuntos musicais se instalavam ali para deleite do público.

Em 1986, um palanque foi montado na Praça para celebrar a emancipação política. Já no primeiro mandato de João Maria a praça recebeu calçamento e o Jardim da independência, sua principal característica. O Jardim hoje tem ao centro o busto de João Maria, idealizador da obra e primeiro prefeito da cidade.

De acordo com o ex-prefeito Eduardo Pires, aliado de longa data de João, Maria, já naquele mandato inicial, o então prefeito foi à Brasília buscar recursos para a construção do jardim. A praça foi mudando ao longo dos anos, passando por diversas reformas até chegar a configuração atual.

Aquela primeira obra de estruturação da praça, deu a essa ares mais modernos. Além da construção do Jardim e da pavimentação do seu entorno, o prefeito mandou fazer uma calçada padronizada para todas as casas. Era uma estrutura única que contornava toda a extensão da praça à frente das casas ali existentes. Parte dessa calçada ainda pode ser observada.

Ainda em alusão à emancipação política, João Maria passou a chama-la de “Praça da Independência”, mas o nome não pegou e a praça ficou mesmo conhecida pelo nome do seu fundador, cujas primeiras casas já ultrapassam os 100 anos de existência.

A nossa cidade tem quase 40 anos de emancipação política, mas a história do nosso povo vai muito além desse fato. A Praça Ângelo Lagoa, hoje uma calma área residencial da cidade, se encontra mais bela do que nunca, com suas bonitas árvores e moradias que misturam o moderno e o antigo, a harmonia de uma jovem senhora de mais de 100 anos.

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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