O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Semana Santa no Gruê em 1949.

Foto: Murilo Santos Menezes.

Há 72 anos, o Vigário de Cícero Dantas, Monsenhor José de Magalhães e Souza, registrava a programação da semana santa da paróquia. Entre as diversas capelas visitadas para os festejos, está a pequena igreja do povoado Gruê, atualmente parte do município de Fátima. Na oportunidade, escreveu o religioso:

 

Programação da semana santa de 1949 [...] dia 14 Gruê e Aldeia.

 

Esse relato só vem confirmar o que a população da região já dizia, que o cemitério da localidade Gruê, assim como a capela, são bastante antigos, tendo sido erguidos um pouco após a construção da igreja Matriz de Fátima que, ao que tudo indica, foi erguida em 1935.


quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Genealogia de Ângelo Lagoa.

 


Esse ainda é um projeto em construção, com o avançar dos trabalhos, mais membros serão adicionados. 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Monsenhor José Magalhães entre cangaceiros.

 

Foto: Blog Lampião Aceso

            Como já abordado anteriormente aqui no Blog História de Fátima, o monsenhor José de Magalhães e Souza, pároco de Jeremoabo, é o responsável pelo registro mais antigo de uma missa aqui em Fátima.

            José Magalhães, nasceu em Portugal a 19 de Outubro de 1885, chegou à paróquia de N. S do Bom Conselho em 1930, para auxiliar o Padre Vicente Martins que se encontrava muito doente. Dividiu seu tempo entre as paróquias de Bom Conselho e Jeremoabo até 1933. O padre Vicente veio a falecer naquele mesmo ano (1933) e o Padre José Magalhães assume a paróquia até a chegada do Padre Renato Galvão.

            Nesse meio tempo, o Padre José Magalhães registra em seu livro de Tombo a primeira missa de que se tem notícia por essas terras. No dia 30 de outubro de 1935 o religioso registra a sua passagem pelo lugarejo que ele próprio batizou de Monte Alegre, nome que só mudaria com a chegada do Padre Renato Galvão.

            Esse registro é extremamente importante por marcar a passagem do então vigário de Jeremoabo por Fátima. Um religioso com diversos registros históricos pela região e que hoje empresta seu nome para uma escola e uma avenida na cidade de Jeremoabo.

            Monsenhor José Magalhães era Português e saiu de terras lusitanas para assumir a paróquia de São João Batista de Jeremoabo nos anos 1920 e teve papel de destaque nos movimentos finais do cangaço. Na foto acima, o padre aparece ao centro, homem alto e de pela clara em meios aos caboclos cangaceiros.

            De acordo com informações apuradas no Blog Lampião Aceso, a fotografia é de outubro de 1938, quando da entrega do bando cangaceiro Zé Sereno. A descrição da fotografia está na imagem abaixo, cedida pelo pesquisador Kiko Monteiro.


Foto: Acervo pessoal de Kiko Monteiro

   

 De acordo com os registros da Paróquia de Jeremoabo, dois anos antes da referida fotografia, em 18 de abril de 1936, o Monsenhor José Magalhães e Souza celebrou um casamento na igreja Matriz de Jeremoabo. A noiva era Joana Maria de Oliveira, irmã da famosa rainha do cangaço, Maria Bonita.

            Esse mesmo religioso celebrou diversas missões por aqui, quando ainda se chamava Feirinha do Mocó, nome que, como dito, foi mudado pelo mesmo padre em 1935.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

A Praça Ângelo Lagoa já ultrapassa os 100 anos.

Imagem wikipédia

 

Hoje sabe-se que a chegada de Ângelo Lagoa ao que hoje é a praça da cidade que carrega seu nome é estimada para o final do século XIX. Em favor dessa teoria, estão os nascimentos de alguns dos seus filhos, como Emília Maria, que nasceu em 1894. A primeira filha do casal Ângelo e Porfíria, chamava-se Josefa Maria de Jesus e nasceu no ano da abolição da escravatura, 1888 e ao que consta, todos os filhos do casal nasceram na primeira casa por eles construída na atual Praça Ângelo Lagoa.

A construção da casa da família é a razão pela qual Ângelo e Porfíria são considerados os fundadores da cidade, pois foi no entorno desta que outras moradias foram sendo construídas e, com o passar dos anos, foi-se formando a atual praça.

Essa informação é relevante pois é importante salientar que, muito antes da construção da referida casa de moradia, outras edificações semelhantes já existiam no atual território de Fátima. Para compreender isso, o leitor precisa considerar que existiam muitas fazendas espalhadas pela redondeza e essas também possuíam suas casas, edificadas ainda na primeira metade do século XIX.

Em favor desse argumento, temos em mãos um documento muito importante, produzido pela Igreja Católica e arquivado em Salvador, no Arquivo Público do Estado. É este chamado de Registro Eclesiásticos de terras, escrito pelo antigo vigário de Cícero Dantas, o Cônego Caetano Dias. É este documento que nos mostra que essas fazendas já existiam em 1856 e boa parte delas, com moradores permanentes.

O caso mais famoso a meu ver é a Fazenda Maria Preta, propriedade de Severo Correia de Souza. A Maria Preta foi uma propriedade rural voltado à criação de gado e com uso de mão-de-obra escravizada. Severo se casou com Líbia na Lagoa da Volta em 30 de setembro de 1861 e veio morar na Maria Preta, onde hoje é o Pisa Macio.

Existem dados de outras pessoas que nasceram em fazendas nas imediações da zona urbana de Fátima em datas anteriores, como Joaquim Francisco dos Reis, nascido nas Pedrinhas em 1878 e os próprios filhos de Severo, nascidos na Maria Preta, João Severo de Souza, nascido em 14 de julho de 1869 e Francisca de Souza, nascida em 21 de setembro de 1890. O mais antigo morador já rastreado nessa região, contudo, é Manoel Lins Barreto, nascido na Fazenda São Domingos, atual povoado São Domingos a 20 de setembro de 1800.

Mas voltando ao início da Praça Ângelo Lagoa, como já afirmado anteriormente, foi a partir da residência que hoje pertence à Cidinho de Zelitão, que foram sendo construídas outras casas de parentes e, logo em seguida, conhecidos foram adquirindo nacos de terra ao redor, formando um quadrado em volta de um centro vazia de chão batido, dentro do qual foi erguido o barracão que, já em 1935, abrigaria a feirinha.

A julgar pelas datas de nascimento dos filhos e do próprio Ângelo, é possível cravar a data da construção da casa entre os anos de 1800 e 1888, o que faz desse importante marco histórico, uma construção bastante antiga.

Se no entorno desta construção, foi se formando a primeira praça, o mesmo não aconteceu com as primeiras fazendas. Voltando ao caso da Maria Preta, após a morte de severo, a propriedade ficou praticamente desabitada, só sendo repovoado no final do século XX. Mas há também casos distintos, uma vez que diversos povoados do município se originaram das antigas fazendas e permanecem habitados ainda nos dias atuais, como é o caso dos Paus Pretos, Monte Negro, São Domingos e muitos outros arruados que antes eram fazendas e que permaneceram povoados por famílias que ainda hoje residem nas terras dos seus ancestrais.

Muitos moradores de Fátima ainda se referem à Praça Ângelo Lagoa como “Rua Velha”. Essa denominação provavelmente se deu a partir do desenvolvimento da atual Av. N. S de Fátima, que passou a ser chamada de “Rua Nova”.

Ao longo dos anos os eventos que ocorriam na cidade tinham a praça como palco. Circos, parques de diversão, as “Ondias” – Brinquedo de diversão primitivo, constituía-se de uma grande roda de ferro e madeira que girava em torno de uma base fixa, as primeiras “ondias” eram movidas pela força dos homens que nela trabalhavam, as mais modernas, já nos anos 1990, eram movidas por um motor elétrico - e conjuntos musicais se instalavam ali para deleite do público.

Em 1986, um palanque foi montado na Praça para celebrar a emancipação política. Já no primeiro mandato de João Maria a praça recebeu calçamento e o Jardim da independência, sua principal característica. O Jardim hoje tem ao centro o busto de João Maria, idealizador da obra e primeiro prefeito da cidade.

De acordo com o ex-prefeito Eduardo Pires, aliado de longa data de João, Maria, já naquele mandato inicial, o então prefeito foi à Brasília buscar recursos para a construção do jardim. A praça foi mudando ao longo dos anos, passando por diversas reformas até chegar a configuração atual.

Aquela primeira obra de estruturação da praça, deu a essa ares mais modernos. Além da construção do Jardim e da pavimentação do seu entorno, o prefeito mandou fazer uma calçada padronizada para todas as casas. Era uma estrutura única que contornava toda a extensão da praça à frente das casas ali existentes. Parte dessa calçada ainda pode ser observada.

Ainda em alusão à emancipação política, João Maria passou a chama-la de “Praça da Independência”, mas o nome não pegou e a praça ficou mesmo conhecida pelo nome do seu fundador, cujas primeiras casas já ultrapassam os 100 anos de existência.

A nossa cidade tem quase 40 anos de emancipação política, mas a história do nosso povo vai muito além desse fato. A Praça Ângelo Lagoa, hoje uma calma área residencial da cidade, se encontra mais bela do que nunca, com suas bonitas árvores e moradias que misturam o moderno e o antigo, a harmonia de uma jovem senhora de mais de 100 anos.

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Quem foi Ângelo Lagoa?

 

Imagem ilustrativa.

            Seu nome de batismo era Ângelo José de Souza, de acordo com alguns descendentes (netos, Bisnetos, sobrinho netos e outros), era um homem branco de olhos claros, com traços europeus. É possível que fosse descendente direto de Holandeses. Há indícios ainda por serem melhor estudados acerca da presença holandesa nessa região.

            De acordo com a pesquisa genealógica, Ângelo Lagoa, como era conhecido, teria nascido em 1856, em Heliópolis. Sobre sua mãe, sabe-se apenas que tinha como primeiro nome Genoveva, um nome que, por sua vez, tem origem do francês e significa “branca e suave”.

            Por volta dos anos 1920, ele chegou a essa região. Adquiriu uma propriedade de nome “Fazenda Boa Vista”, cujas terras se estendiam da atual praça da igreja, descendo em direção à praça Ângelo Lagoa, na direção da estrada que hoje liga Fátima a Heliópolis. No registro de terras do município de Cícero Dantas de 1857 a 1859, há pelo menos 7 propriedades com o nome “Boa Vista”, sendo, portanto, impossível afirmar de quem o patriarca da cidade adquiriu a terra.

Casou-se com Porfiria que era da família dos Canoa (família antiga nessa região, cuja maioria se concentrava em fazendolas nas áreas das atuais localidades de Cantos e Surjoa.   O casal concebeu numerosa família. Entre seus filhos estão: Emília Maria (Mila), João Sobrinho, Francisco Virgílio (Chico de Ângelo), Antônio Virgílio (Totonho Virgílio, delegado em Fátima e Heliópolis), Daltro Virgílio e Antão.

            Ângelo José é considerado o fundador da cidade de Fátima, pois foi em torno da primeira casa que construiu aqui, na atual Praça Ângelo Lagoa, que foi se formando o pequeno povoamento que, anos depois, daria origem ao município atual. Sua moradia ficava ao sopé da Serra do Mocó, onde hoje estão as torres de telefonia da cidade. Ainda nos anos 1920, Ângelo foi à Cícero Dantas pedir ao Coronel Chiquinho Vieira (1872 – 1949) apoio para construir um pequeno barracão naquela praça a fim de realizar ali uma feira livre.

            Eram tempos difíceis, com estradas precárias, a seca e cangaceiros que perambulavam por essas matas. Essa foi a principal razão para a criação da feira que inicialmente ficou conhecida como “Feirinha do Mocó”, nome pelo qual, o povoamento inicial passou a ser chamado.  

            O ano do seu falecimento, provavelmente foi 1955, ele teria 94 anos. De acordo com relatos, a morte de Ângelo gerou grande comoção na pequena localidade, que à época já se chamava Monte Alverne. Seus netos e netas, hoje já idosos, relatam que o avô ficou dias acamado antes de falecer.

 

Esse texto foi produzido em coautoria com J. Kléber Menezes.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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