Hoje já se sabe que a área
onde hoje se localiza Fátima e povoações vizinhas já é habitada desde o século
XIX, nesse sentido, o primeiro ponto a considerar é que o município ocupa uma
área relativamente extensa, marcada por diferentes dinâmicas de ocupação ao
longo do tempo. Para situar a discussão, restringir-nos-emos, neste texto, aos
primeiros núcleos de povoamento nas regiões que compreendem a atual sede
municipal e suas adjacências.
A sede do município apresenta
particularidades históricas próprias. Desde 1825, já havia registros
cartográficos e documentais de fazendas na região, conforme inventários dos
bens pertencentes à Casa da Torre. Entre eles, destacam-se as fazendas Mocó e
Lagoa da Volta (1829) e Barriguda (1833). Ainda assim, há indícios de que a
ocupação efetiva dessas terras tenha ocorrido apenas a partir da segunda metade
do século XIX.
Um exemplo é a fazenda Maria
Preta, cujas terras, pertencentes a Severo Correia, já estavam voltadas para
atividades agropecuárias nesse período, conforme documentação disponível.
Outras propriedades, algumas ainda hoje conhecidas pelos mesmos nomes, também
se encontravam em funcionamento entre 1850 e 1899, período que será nosso foco
a seguir.
Na localidade da Laje da Boa
Vista, situada nas proximidades da atual zona urbana, nasceram, segundo
registros do Arquivo Público, Francisco Félix de Oliveira (Chico Félix) em
1885, Pedro Félix de Oliveira em 1892 – ancestrais de João Maria de Oliveira e
de várias famílias fatimenses contemporâneas – e Theodora Maria das Virgens, em
1891, todos na mesma região. Documentos também apontam o nascimento de José
Veríssimo do Nascimento, em 1859, na Cutia, próximo às Pedrinhas; Manoel
Geraldo, nascido por volta de 1890 nas Pedrinhas; e José de Souza Quirino,
oriundo do Mundo Novo, nas proximidades do atual povoado Quirinos, também cerca
de 1890. Um outro indivíduo, homônimo, aparece como comprador da fazenda Mundo
Novo em 1857, talvez o pai desse primeiro.
Essas informações nos permitem
concluir que, entre 1850 e 1899, a área correspondente à atual sede municipal
de Fátima era composta por diversas fazendas, cujos habitantes mantinham
relações sociais e econômicas entre si. Muitos desses moradores do século XIX
tornaram-se os ancestrais de boa parte das famílias fatimenses de hoje.
No início do século XX, o
processo de povoamento intensificou-se ainda mais. O assassinato de João
Lucindo, já abordado em outro texto deste Blog, fornece pistas relevantes sobre
a organização social da época. O crime, ocorrido em 1919, teria sido motivado
por vingança e envolveu diferentes linhagens familiares da região, revelando
laços de convivência complexos, característicos de comunidades estabelecidas há
anos.
Em outras palavras, o episódio
demonstra que aquelas famílias mantinham relações de cooperação suficientemente
sólidas para planejar ações conjuntas, o que pressupõe uma convivência
prolongada. Além disso, o fato de a rota utilizada por João Lucindo entre a
Ilha e Simão Dias ser bem conhecida de seus algozes indica que a antiga
localidade do Mocó era um ponto de passagem frequente para viajantes e
comerciantes.
Outro elemento relevante é a
menção, no processo criminal de 1919, ao nome de Ângelo Lagoa, apontado como
“morador da Serra do Mocó”. Esse registro antecipa a data tradicionalmente
associada à sua chegada à região (década de 1920), sugerindo que ele já possuía
relações sociais consolidadas antes desse período. Um dos envolvidos no caso,
Manoel Reis do Nascimento, era seu genro, evidenciando que Ângelo Lagoa já
havia constituído família localmente anos antes do episódio.
Moisés Reis, Professor há 24
anos do município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com
especialização em História e Cultura Afro-brasileira pela UNIASSELVI, Mestre em
Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual
Didático do Professor de História - O Nazista - Fátima: Traços da
sua Histórias - O Embaixador da Paz - Maria Preta: Escravismo no
sertão baiano – Últimos Cangaceiros, Justiça, prisão e liberdade - da HQ
Histórias do Cangaço e do documentário Identidade Fatimense.
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