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quarta-feira, 23 de julho de 2025

NAÇÃO e SÍTIO, águas que testemunharam o princípio de Fátima.

 


NAÇÃO e SÍTIO, águas que testemunharam o princípio de Fátima.

 

Após a carta régia de 1701 que direcionou a criação de gado para o sertão, as primeiras estradas (caminhos do boi) começaram a ser abertas, eram veredas que serviam para o transporte do gado que engordava no sertão e era conduzido para o abastecimento dos mercados de carne no litoral. 

Como não havia tecnologia para refrigeração, as únicas formas de fazer com que a carne chegasse aos locais de consumo no litoral era a produção da carne seca ou a condução dos animais vivos até os locais de abate, sendo essa segunda técnica utilizada em larga escala.

Quem conhece o sertão, sabe que nessa zona existem apenas duas estações, uma seca e outra chuvosa. Essa peculiaridade climática, obrigava o sertanejo a construir estruturas rudimentares para preservar a preciosa água que fluía nas enxurradas durante o período chuvoso.

Inicialmente eram estrutura simples, construídas informal e coletivamente. Próximos a córregos temporários ou mesmo a olhos d’água naturais, construíam pequenas barragens de pedras, valas cavadas de forma rústicas, estruturas que pudessem reter a água no período mais seco do ano.

Essas pequenas barragens eram construídas em locais estratégicos, posicionadas a algumas léguas de distância uma da outra ao longo do caminho. Inicialmente, como dito, eram estruturas de uso comum, mas sem intervenção estatal. Isso mudou a partir da grande seca de 1877 a 1879, esse período de estiagem foi um marco histórico, suas consequências avassaladoras levaram o Estado Imperial a buscar intervir com planejamento de segurança hídrica.

É após essa grande seca que as antigas barragens já projetadas pela mente intrépida do sertanejo recebem investimento público e melhorias para que pudessem armazenar ainda mais água e garantir o precioso líquido às grandes boiadas e ao ser humano. Por serem construídas pelo Estado, ficaram conhecidos como TANQUES DA NAÇÃO.

Esses locais eram utilizados como pontos de paragem para boiadeiros e demais viajantes e no seu entorno foi-se formando lugarejos com pequena população habitando casas simples, cobertas de palha que, ao longo dos anos, vão se multiplicando e sendo aperfeiçoadas.

        Em Fátima, ainda existe até os dias de hoje um exemplar raro de uma obra pública muito antiga, a “Nação” e o “Sítio” são obras remanescentes desse período. Inicialmente deve ter sido uma estrutura simples, provavelmente construída por mão-de-obra escravizada, que foi sendo ampliada aproveitando o antigo córrego que outrora corria por onde hoje é a zona urbana do município.

          Não se sabe a data exata, mas é certo que essa aguada recebeu investimentos em melhorias, foi ampliada e por muitos anos matou a sede de seres humanos e animais, abasteceu as obras de muitas das antigas casas aqui construídas e foi palco do trabalho árduo de sofridas senhoras que ali se juntavam para lavar suas roupas até os anos 1980.

          Antes da perfuração do poço e da construção da Bomba em 1954, essas duas represas eram a principal fonte de abastecimento de água de Fátima, ficando às margens da Estrada Real, virou ponto de parada dos antigos viajantes, boiadeiros e tropeiros acampavam em suas margens, faziam suas refeições e eventualmente passavam a noite para seguir viagem no dia seguinte. Com o tempo, muitos utilizavam a casa do senhor Chico André como pensão, esses últimos, testemunhas da evolução do antigo povoado que viria a ser a Fátima que habitamos.

         

 

Após a carta régia de 1701 que direcionou a criação de gado para o sertão, as primeiras estradas (caminhos do boi) começaram a ser abertas, eram veredas que serviam para o transporte do gado que engordava no sertão e era conduzido para o abastecimento dos mercados de carne no litoral. 

Como não havia tecnologia para refrigeração, as únicas formas de fazer com que a carne chegasse aos locais de consumo no litoral era a produção da carne seca ou a condução dos animais vivos até os locais de abate, sendo essa segunda técnica utilizada em larga escala.

Quem conhece o sertão, sabe que nessa zona existem apenas duas estações, uma seca e outra chuvosa. Essa peculiaridade climática, obrigava o sertanejo a construir estruturas rudimentares para preservar a preciosa água que fluía nas enxurradas durante o período chuvoso.

Inicialmente eram estrutura simples, construídas informal e coletivamente. Próximos a córregos temporários ou mesmo a olhos d’água naturais, construíam pequenas barragens de pedras, valas cavadas de forma rústicas, estruturas que pudessem reter a água no período mais seco do ano.

Essas pequenas barragens eram construídas em locais estratégicos, posicionadas a algumas léguas de distância uma da outra ao longo do caminho. Inicialmente, como dito, eram estruturas de uso comum, mas sem intervenção estatal. Isso mudou a partir da grande seca de 1877 a 1879, esse período de estiagem foi um marco histórico, suas consequências avassaladoras levaram o Estado Imperial a buscar intervir com planejamento de segurança hídrica.

É após essa grande seca que as antigas barragens já projetadas pela mente intrépida do sertanejo recebem investimento público e melhorias para que pudessem armazenar ainda mais água e garantir o precioso líquido às grandes boiadas e ao ser humano. Por serem construídas pelo Estado, ficaram conhecidos como TANQUES DA NAÇÃO.

Esses locais eram utilizados como pontos de paragem para boiadeiros e demais viajantes e no seu entorno foi-se formando lugarejos com pequena população habitando casas simples, cobertas de palha que, ao longo dos anos, vão se multiplicando e sendo aperfeiçoadas.

        Em Fátima, ainda existe até os dias de hoje um exemplar raro de uma obra pública muito antiga, a “Nação” e o “Sítio” são obras remanescentes desse período. Inicialmente deve ter sido uma estrutura simples, provavelmente construída por mão-de-obra escravizada, que foi sendo ampliada aproveitando o antigo córrego que outrora corria por onde hoje é a zona urbana do município.

          Não se sabe a data exata, mas é certo que essa aguada recebeu investimentos em melhorias, foi ampliada e por muitos anos matou a sede de seres humanos e animais, abasteceu as obras de muitas das antigas casas aqui construídas e foi palco do trabalho árduo de sofridas senhoras que ali se juntavam para lavar suas roupas até os anos 1980.

          Antes da perfuração do poço e da construção da Bomba em 1954, essas duas represas eram a principal fonte de abastecimento de água de Fátima, ficando às margens da Estrada Real, virou ponto de parada dos antigos viajantes, boiadeiros e tropeiros acampavam em suas margens, faziam suas refeições e eventualmente passavam a noite para seguir viagem no dia seguinte. Com o tempo, muitos utilizavam a casa do senhor Né André como pensão, esses últimos, testemunhas da evolução do antigo povoado que viria a ser a Fátima que habitamos.

         

 


terça-feira, 22 de julho de 2025

ASSOMBRAÇÃO DA MARIA PRETA

 

A área onde existia a antiga fazenda Maria Preta carrega há muito tempo uma aura pesada, uma sensação de que algo de muito ruim aconteceu ali. Desde tempos imemoriais que as pessoas relatam visões inexplicáveis, sensações estranhas ao passar por determinados trechos da estrada que liga a região do João Barbosa e a zona urbana do município, sobretudo nas imediações do Pisa-macio.

          Entre sensações estranhas e visões inexplicáveis, existem relatos de avistamentos de pessoas ou animais que desaparecem misteriosamente, causando pavor em algumas pessoas. Quando eu era criança, sempre evitava andar por aquela região de tanto ouvir falar de assombrações.

          Assombrações, “malassombros”, “paracé”, alma pena. Muitas são as denominações, muitas são as formas que o sertanejo tem de se referia ao inexplicável.

          O meu blog fala de história e tomando a história como uma ciência, é necessário cautela ao tratar de certos assuntos. Não existem evidências científicas da vida após a morte ou mesmo de pessoas que voltam de outro plano para nos assombrar.

          Dito isso, é necessário que se compreenda (além das questões de fé), que o simples fato de existir nessa região específica uma “atmosfera ruim”, me desperta o interesse de conhecer as razões para esse fenômeno.

          Conhecendo o passado daquele torrão, algumas questões me parecem importantes para se pensar acerca do caso. A principal problemática que me surge é o fato de ali ter sido um local de sofrimento para as pobres criaturas expostas às agruras da escravidão. Os escravizados de Severo Correia sofreram, naquele mesmo espaço territorial, as chibatadas embaixo do Pé de Caixão, o desrespeito dos sepultamentos sem qualquer liturgia e uma gama de situações absolutamente cruéis.

          O que é comum ouvir de algumas pessoas que conhecem a história e que habitam aquela região há muitos anos, é a associação entre as ditas assombrações e as mazelas dos escravos da Maria Preta, como se tal processo histórico tivesse criado uma zona amaldiçoada ou algo nesse sentido.

          Pessoalmente, concordo e discordo desse linha argumentativa, compreendo que as angústias dos antigos escravizados produziram a má fama do lugar, mas não entendo que isso tenha causado algo sobrenatural, o meu palpite é que as histórias de sofrimento e injustiça, associado ao cemitério de escravos perdido no tempo, tenham atravessado as gerações, produzindo nas pessoas a sensação de que algo de ruim tenha acontecido ali, o resto fica por conta da imaginação e das crendices do sertanejo. 

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Mais um filho de Ângelo Lagoa e Porfíria:

 

Francisco Virgílio de Souza nasceu em 1896, na atual Praça Ângelo Lagoa, era o 6° filho do casal fundador. Casou com Maria Francisca de Souza no dia 28 de novembro de 1923, quando Fátima ainda se chamava Mocó. O casal teve nove filhos que deixaram um grande número de descendentes. 

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Sertão violento, assassinato em Bom Conselho, 1874.

 


Um grupo de 4 homens, entre eles dois peritos amadores, deixa Bom Conselho (atual cidade de Cícero Dantas) após o almoço em direção à fazenda Cajazeiras, tinham a ingrata missão de periciar o corpo de uma menina de doze anos, brutamente assassinada a pauladas.

Era 19 de abril de 1874, e a cena encontrada na casa de João Sacerdote do Nascimento foi terrível. No alpendre da simples casa de taipa, o corpo franzino de uma menina branca estava estendido, tinha a cabeça esfacelada por golpes de um porrete de tal modo que os peritos Manoel Joaquim da Silva e Joaquim Dantas de Miranda não tiveram condições de precisar quantos golpes foram o suficiente para produzir tamanho estrago.

Além dos peritos, estiveram na ocasião do exame de Corpo de Delito o subdelegado e o escrivão, responsável por produzir as primeiras linhas dessa história ocorrida há mais de 150 anos.

O assassino, José D’Assunção, era primo da vítima. Censão, como era conhecido, era tido como um toleirão, era um homem bem mais velho que aparentemente se apaixonou pela prima de 12 anos. Na época, era comum que uma menina se casasse tão jovem, entretanto, para a ira de Censão, a opinião da pretendente era levada em consideração.

Ana morava somente com a mãe e o irmão Antônio, pois seu pai, na época, já havia falecido, conforme consta no processo crime identificado como 03/85/42, de posse do Arquivo Público do Estado da Bahia. Sua frieza frente as investidas do pretendente o levaram a elaborar um plano para o assassinato, mostrando que ações violentas de homens rejeitados infelizmente não são exclusividades do nosso tempo.

Os registros nos permitem concluir que Censão havia planejado o fato, era um homem imaturo para o seu tempo, o que lhe rendeu o adjetivo “toleirão”, mas era dotado de um temperamento perverso e calculista. Durante as agressões à menina Ana, não deu qualquer chance de defesa à vítima, fulminando-a com brutalidade.

Os irmãos haviam passado aquela noite na casa do seu tio José Martins e pela manhã seguiam calmamente pela estrada em direção à casa da mãe, sendo abordados durante esse trajeto.

Entre os depoimentos que constam no processo, a descrição do menino Antônio é de longe o mais detalhado e impactante. Perguntado, respondeu ter entre 8 a 9 anos, ser filho de Pedro Borges Souza de Andrade e Maria do Espírito Santo. Disse que, vindo da casa do seu tio José Martins para a casa de sua mãe, com sua irmã Ana, foi surpreendido pelo assassino que saiu do mato, era seu primo, Francisco da Assunção, conhecido por todos como Censão.

Este, teria perguntado a Ana a razão da sua frieza e se ela desejava se casar com ele. Diante da recusa da moça, Censão, tomado de ódio, avançou sobre Ana e desferiu algumas pancadas em sua cabeça. Ainda tomando como base o depoimento do menino Antônio, Ana caiu em decorrência das pancas e pediu socorro a ele. Foi nesse momento que o menino avançou sobre Censão, homem feito, com idade estimada entre 36 e 37 anos.

Antônio segurou firmemente a arma do agressor, diante da insistência do menino em não soltar o porrete, a fúria de Censão se volta agora para ele que é violentamente atingido na cabeça e cai a sangrar.

Ao se desvencilhar do garoto, o assassino se volta para Ana, agarra-a pelos cabelos e arrasta para o mato onde conclui o crime. Diante da impossibilidade de defender ele mesmo sua irmã, Antônio corre até a casa do seu tio para pedir ajuda.

É através de outra testemunha que sabemos do que ocorre em seguida. Francisco estevão, então com 60 anos de idade, natural do Bom Conselho afirma que, estando na casa de João Sacerdote, afirmou que José Martins chegou ao local informando que o menino Antônio esteva em sua casa, lavado em sangue, e dizia que Censão tinha matado a sua irmã.

Todos seguem até a casa de José Martins e, junto com Antônio, decidem ir até o lugar do crime. Ao chegar ao trecho indicado da estrada, perceberam logo o local por onde Ana tinha sido arrastada e depois de muito procurarem, encontraram o cadáver em cima de uma moita de capim, os ferimentos na cabeça da menina faziam sair a massa encefálica, mas ela ainda respirava. Tomada nos braços, Ana foi levada agonizando para a casa de João sacerdote, onde morre não muito tempo depois.

Cenção foi jugado e preso pelo seu crime e cumpriu pena em Jeremoabo, não se sabe as circunstâncias da sua morte, mas é possível inferir que morreu enquanto cumpria pena, provavelmente de alguma enfermidade. A perícia em seu corpo é datada de 19 de junho de 1875, cerca de um ano após a morte de Ana.

A cajazeira, palco do terrível acontecimento, pertence ao município de Cícero Dantas, fica nas imediações do povoado Trindade e, de acordo com o pesquisador Marcelo Reis, não é mais habitada, uma vez que seus antigos moradores hoje vivem nas cidades vizinhas. Ainda de acordo com Marcelo, seu avô lembra da antiga cruz que marcava o local da morte, mas hoje toda a área foi transformada em pasto e a localização da cruz não é mais conhecida.


Moisés Reis, Professor há 24 anos do município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira pela UNIASSELVI, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História - O Nazista - Fátima: Traços da sua Histórias - O Embaixador da Paz - Maria Preta: Escravismo no sertão baiano – Últimos Cangaceiros, Justiça, prisão e liberdade - da HQ Histórias do Cangaço e do documentário Identidade Fatimense.


Contato

Fone

75 – 99742891

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moisessantosra@gmail.com


 

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Você sabe o significado das pedras nas capelinhas e túmulos?


 

Em diversos locais do sertão, não é difícil visualizar pedras cuidadosamente colocadas em cima de túmulos ou mesmo nas capelinhas que marcam o local da morte de alguém. Não é difícil imaginar que a maioria das pessoas que praticam esse antigo costume não faz ideia da razão para essa prática.

O que poucos sabem é que é esse um costume judeu, trazido ao Brasil há séculos pelos chamados Cristãos-novos, judeus convertidos forçosamente ao catolicismo.

No judaísmo tradicional, o ato de colocar pedras sobre túmulos ao visitar um cemitério é uma prática de origem muito antiga, provavelmente ligada às vivências de povos do deserto. Além de indicar respeito pelos mortos e marcar a presença de quem visita, as pedras ajudavam a manter o túmulo visível e protegido contra animais ou erosões em solos arenosos. Essa simbologia atravessou gerações e migrou junto com os judeus para diferentes partes do mundo.

No Nordeste brasileiro, sobretudo no Sertão, chegaram cristãos-novos (judeus convertidos à força ao cristianismo durante a Inquisição) que carregavam traços de práticas e memórias judaicas – muitas vezes diluídas ou sincretizadas. Em regiões áridas como o Sertão, o ambiente de caatinga com sua paisagem pedregosa poderia ter facilitado a preservação, mesmo que inconsciente, desse gesto cultural. Assim, a presença de pedras em túmulos no semiárido pode dialogar com uma tradição ancestral de marcar a memória e a visita aos mortos, incorporada ao contexto sertanejo sem necessariamente ser reconhecida como uma herança judaica direta.

A pedra tem ainda uma simbologia importante, diferente as flores que se esvaem com alguns dias, as pedras são permanentes, representando a durabilidade da memória dos que se foram.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

De Bom Conselho à Cícero Dantas

 


    O decreto acima, assinado pelo governador José Marcelino de Souza, determina a mudança de nome da Antiga Vila do Bom Conselho que, a partir do dia 30 de maio de 1905, passava a se chamar Cícero Dantas. A Nova nomenclatura homenageia a Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo, falecido na mesma vila, no dia 27 de outubro de 1903. O Barão tinha uma forte ligação com Cícero Dantas, dizia que se morresse longe dali, que enterrassem ao menos o seu coração naquela terra. Faleceu no atual sobrado que abriga a Rádio Regional e foi sepultado no altar da igreja, ao lado de um dos seus desafetos, o Cônego Caetano Dias. 

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Bom Conselho violento.

 

Era 28 de agosto de 1903, entardecer na Vila de Bom Conselho, quando 40 homens armados chegam à casa do juiz da local, o magistrado Antônio Pedreira Cerqueira, conhecido como Dr. Pedreira. Aqueles homens estavam sob as ordens do então comissário de polícia, Pedro Correia de Sousa e traziam um cavalo arreado.

          Entraram na casa do juiz alheios aos gritos dos filhos e da esposa e arrancaram a autoridade de dentro da residência fazendo-o montar no animal sobressalente sob as ordens do comissário que afirmava não ser mais possível ao magistrado atuar no Bom Conselho. Conduziram-no por longo caminho até o engenho Camurciatá, propriedade do barão de Jeremoabo, no município de Itapicuru. Dois dias depois, a família do juiz deixou a vila para encontra-lo.

          Toda essa ação foi capitaneada pelos Correias e Vieiras, duas famílias que se unem em laços históricos antigos em Cícero Dantas. Mas o que teria motivado tamanha violência? O que poderia ter levado à expulsão forçosa do juiz da cidade pelos mandatários locais?

          De acordo com o historiador Marcelo Reis, o juiz Pedreira, havia libertado um homem, preso injustamente. Ocorre que esse indivíduo era um desafeto antigo de Manoel Vieira de Andrade, o Mané Vieira.

          Para fins didáticos e para situar esse indivíduo na atual família Vieira de Cícero Dantas, Mané Vieira era pai de Chiquinho Vieira, que, por sua vez, é o avô do ex-prefeito de Cícero Dantas, Hélio Vieira, ainda vivo nos dias de hoje.

          A soltura do desafeto, teria levado a uma reação em cadeia que, de acordo com depoimentos colhidos por Marcelo Reis, levaria ao trágico suicídio de Mané Vieira.

          A ação realizada em Bom Conselho repercutiu na imprensa baiana. Na edição de 14 de agosto de 1903, o jornal da capital CORREIO DO BRASIL, noticiava com grande alarde os fatos.

          De oposição ao governador Severino Vieira, o periódico tratou de culpar o governo do estado pelo ato violente e de citar motivações eleitoreiras. Fazendo a defesa incisiva do magistrado deposto, o texto cobra a exoneração do comissário de polícia e afirma: “O Dr. Pedreira tinha o pecado de não ser um magistrado político”.

          Na edição de 16 de setembro, o mesmo veículo de informação afirma que no interior da Bahia, essas arbitrariedades não eram novidades, cita o caso do juiz de Monte Santos que, meses antes, tinha se mudado às pressas da comarca por medo da violência.

          O próprio Antônio Pedreira publicaria artigo no mesmo jornal afirmando que, no calor do momento, ele mesmo teria solicitado aos seus algozes que o levassem para a propriedade do Barão em Itapicuru e que não voltaria ao Bom Conselho pois isto seria, em suas palavras: “Morte certa”.

          Mesmo após a repercussão negativa do fato, o comissário de polícia Pedro Correia, que era membro da poderosa família e tio do promotor local, foi mantido no cargo pelo governador. Sabendo disso, o jornal acusa Severino Vieira de ter, ele mesmo, planejado a ação em conluio com seus correligionários locais.

          O sertão sempre foi palco de atos violentos, com a ausência do estado nos primórdios da colonização, as pessoas aprenderam a fazer justiça com as próprias mãos, a arma sempre ao alcance, foi um recurso recorrente para a vingança ou para a coerção.

          Os homens que arquitetaram a expulsão do juiz, acreditavam ter o direito de impor pela via da força os seus interesses. Nos dias atuais, coagir um juiz a deixar a comarca é um ato quase impensado, mas para os nossos ancestrais, fazia parte do jogo de interesses.

 

Moisés Reis, Professor há 24 anos do município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira pela UNIASSELVI, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História - O Nazista - Fátima: Traços da sua Histórias - O Embaixador da Paz - Maria Preta: Escravismo no sertão baiano – Últimos Cangaceiros, Justiça, prisão e liberdade - da HQ Histórias do Cangaço e do documentário Identidade Fatimense.


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segunda-feira, 19 de maio de 2025

ESCOLA MUNICIPAL PROFESSORA IDIVANIA DE OLIVEIRA MENEZES – HISTÓRIA.

 

QUADRO DEMOSNTRATIVO DOS DIRETORES E DIRETORAS.

NOME

PERÍODO

MARILENE SANTANA SILVEIRA

1987 a 1995*

MARIA SOLANGE

 

EDMILSON OLIVEIRA SOUZA

De 1996 a 1999.

JOSÉ ADELMO DE SANTANA

2000

IDIVANIA DE OLIVEIRA MENEZES

2001 a 2007 e 2011 a 2014

MEIRE CLÉSIA GASPAR DE ANDRADE CAVALCANTE

2008

DÉBORA SANTANA BORGES GOLVEIA

2009..

JOCELINA ALVES DOS SANTOS

2016 a 2020

MOISÉS SANTOS REIS AMARAL

2021...


O Colégio Cícero Dantas foi fundado pelo professor José Batista Gouveia (Zelito Gouveia) a 5 de janeiro de 1972. Era uma instituição particular que teve autorização para funcionamento a partir da portaria n° 173, de 5 de janeiro de 1972, emitida pela secretaria do estado da Bahia.

Contava com os cursos do maternal, pré-escolar, primeiro e segundo graus. O segundo grau era um curso profissionalizante subdividido em duas modalidades, que habilitava os estudantes para o exercício do magistério e da contabilidade.

A instituição foi pensada para ofertar o Ensino Médio para jovens que concluíam o curso Ginasial, uma vez que estes precisavam viajar para Feira de Santana, Salvador ou Aracaju para prosseguir nos estudos.

O prédio do antigo Hotel Gouveia, situado na Av. Getúlio Vargas (atual Avenida Luiz Eduardo Magalhães) na cidade de Cícero Dantas, foi adaptado por Zelito Gouveia para receber as instalações do Colégio Cícero Dantas.

A instituição passa a funcionar como filial na Vila de Fátima a partir de 1975 ofertando aos fatimenses o ensino primário (equivalente ao ensino de 6° ao 9° ano atual), onde assim permanece por 12 anos, até 1987. Essa etapa do ensino, era exclusiva para aqueles que podiam pagar. Para os demais, a opção era estudar na escola Estadual Nossa Senhora de Fátima (fundada em 1952 na gestão de Abelardo Vieira) que ofertava o curso pré-escolar, equivalente atualmente ao ensino de 1° ao 5° ano.

O curso de Magistério acabou vindo para Fátima através da Professora Marilene Santana Silveira, que já atuava como “professora leiga” na cidade desde 1975. Com o objetivo de se qualificar na carreira de professora, Marilene começou a estudar em Cícero Dantas, com uma turma de outros jovens estudantes, fretavam um carro e iam todas as noites até a cidade vizinha, enfrentando os 18km que separam Fátima de Cícero Dantas, ainda com estrada de chão. No inverno, as dificuldades corriqueiras como falhas mecânicas, pneus furados e outras, se somavam à lama que tomava conta da velha estrada.

De acordo com Marilene, em conversa com Zelito Gouveia, veio o aval para trazer o curso para Fátima utilizando a antiga estrutura já existente na cidade. A condição imposta por Zelito Gouveia teria sido que a própria Marilene assumisse toda a burocracia e administração do Magistério em Fátima.

Conhecendo bem as dificuldades do deslocamento para fins de estudo de Fátima à Cícero Dantas, após a formação, Marilene viu a oportunidade de trazer o curso para Fátima, o Curso Técnico em Magistério veio para Fátima ainda ofertado como ensino particular. Funcionou até 1987.

Em funcionamento, o Magistério conduzido por Marilene tornou-se referência regional, atraindo, alunos das cidades vizinhas em busca de formação profissional.  Aquelas primeiras turmas de professores formadas em Fátima, no futuro, seriam os condutores da educação do município.

Com a emancipação política de Fátima, iniciada efetivamente a partir de 1986, o município passa a gerir suas próprias instituições. São organizadas e estruturadas órgão públicos e passa-se a existir a necessidade de ofertar aos seus cidadãos o ensino oficial municipal.

O pequeno prédio escolar que já funcionava onde hoje é a Escola Municipal Professora Idivania de Oliveira Menezes, dispunha de estrutura consolidada, porém, já no ano de 1987, não contava com muitos alunos no âmbito do ensino particular e Zelito Gouveia acabou optando por vender o prédio para a prefeitura de Fátima.

Naquele mesmo ano, o município adquire por compra, o prédio escolar do Colégio Cícero Dantas. O nome da nova unidade serie escolhido pelo prefeito João Maria de Oliveira. Como militar, escolhe o nome do Marechal Floriano Peixoto, nome esse que refletia muito mais a admiração do gestor pelo Marechal do que uma identificação com o nome do homenageado a qualquer temática ligada à educação como um todo.

Em 1988, o Floriano Peixoto foi transferido para o prédio da antiga Escalo Municipal José Sarney em virtude das obras de ampliação no prédio da unidade. Em 1989, voltou a funcionar no prédio de origem, de onde nunca mais saiu.

          No dia 29 de janeiro de 1987, o prefeito João Maria de Oliveira e a secretária de administração Claudinei Batista Santana, assinam o primeiro plano de carreira do magistério municipal, após a aprovação pela câmara.

          No documento, institui-se os cargos comissionados ligados à educação como sendo de três categorias: Direção, Supervisão e Docência, cujo provimento de vagas se dava por nomeação ou contrato.

          A nomeação, nesse caso, também era via do concurso público que estava sendo organizado pelo município recém-criado. 

No diário oficial do Estado da Bahia de 12 de fevereiro de 1992, sai a autorização para o funcionamento. Naquele mesmo ano, uma descrição da estrutura física da escola é feita.

Com o título simplório de “Sobre o Prédio”, o texto sem autor definido consta nos arquivos atuais da escola, não é indicado em suas linhas o objetivo pelo qual foi redigido e assim descreve a estrutura da época:

 

A escola está localizada numa avenida ampla e de fácil acesso para todos. possui um amplo espaço que serve como estacionamento para mais ou menos 100 (cem) veículos.

A área total do terreno da escola corresponde a 6.368,51 metros quadrados, com uma área construída de 1.645,25 metros quadrados; construção feita com bloco de cimento e tijolos comuns, reboco fino, massa corrida, pintura com tinta base d’água, piso de cerâmica.

 

Conforme planta arquitetônica em anexo, a escola possui 8 salas de aula, uma sala para biblioteca, uma sala para diretoria, uma sala para coordenação pedagógica, uma sala de computação, uma para supervisão do estágio, uma sala para a secretaria, dois banheiros na área administrativa, uma cozinha na érea para oficina pedagógica, uma sala para almoxarifado, uma cantina com refeitório, um auditório, uma área livre coberta, quatro banheiros para uso exclusivo dos alunos, uma quadra de esportes.

 

Quando o município assume a unidade escolar, já rebatizada de Escola Municipal de 1° e 2° graus Floriano Peixoto, era ofertado apenas o ensino de 1° a 4° séria, na gestão escolar da professora Marilene. A partir de 1998, já com Edimilson Souza como gestor, inicia-se o funcionamento escolar com a modalidade de 5° a 8° série, já na gestão do prefeito Eduardo Pires.

Em março do ano 2000, a escola solicitou autorização para funcionamento do ensino médio, pedido respondido a 30 de março daquele ano pelo ofício 040/2000. Na correspondência, a técnica da secretaria de educação do estado, Terezinha Froes Burnham, alega precariedade na estrutura física da escola e emite parecer negativo.

A autorização para o funcionamento do 2° grau só foi concedida em 1992, após árduo processo de junção e envio de documentação comprobatória encabeçado pelo então gestor escolar Edimilson Oliveira Souza.


No dia 14 de maio de 1996, o prefeito Eduardo Pires de Andrade assina a lei municipal que autoriza formalmente a mudança de nome da escola, essa lei, na prática, formalizava a inclusão do termo “Escola de 1° e 2° Graus” à nomenclatura “Floriano Peixoto”.

 Os desafios para a autorização da escola junto à secretaria do estado eram inúmeros e sempre dificultado pelo distanciamento do órgão estadual em relação ao município tanto de ponto de vista geográfico quanto do ponto de vista das necessidades e particularidades da educação local.

De acordo com o professor Edimilson, não existia rede municipal de educação, sendo o ensino do município atrelado à DIREC 11. Assim, todos os trâmites legais referentes ao ensino deveriam ser resolvidos na esfera estadual, o que amarrava as tomadas de decisões e, por consequência, toda a rede.

A partir de 1998, com a sansão da Lei 220, de 02 de outubro, que disciplinava a organização do Sistema Municipal de Ensino de Fátima, é dado o primeiro passo no sentido de dar autonomia ao município com a criação do CME, o Conselho Municipal de Educação. Ainda de acordo com Edimilson, o CME ainda não era autônomo, era um órgão propositivo e consultivo, mas não normativo. O mesmo poderia ser dito da Secretaria Municipal de Educação, que poderia deliberar sobre questões pontuais, mas precisava se reportar ao representante do Estado.

Essa dependência é superada com a lei 220, de 02 de outubro de 2001, que disciplina a organização do Sistema Municipal de Ensino de Fátima. É essa legislação que cria, de fato, um sistema municipal de ensino e traz autonomia total.

Em 2001, a lei 221, altera a lei 178 (25 de novembro de 1998) e reestrutura o CME, dando a esse órgão o caráter de colegiado. É a partir daí, que sob a presidência do mesmo Edimilson Souza, muitos avanços são registrados na educação do município.

O nome Escola Municipal de 1° e 2° graus foi oficialmente abandonado no dia 2 de dezembro de 2015, quando foi sancionada a Lei 426 pelo legislativo municipal. O projeto, de autoria do vereador Fabio José Reis de Araújo, determinava que a escola passaria a se chamar, a partir daquela data, Escola Municipal Professora Idivania de Oliveira Menezes a partir do dia 1 de janeiro do ano seguinte e foi assinado pelo então prefeito Florisval Nunes Santana.

A nova nomenclatura tinha por objetivo homenagear a Professora Idivania de Oliveira Menezes, servidora pública municipal, que atuou como professora da instituição (1996 a 2000) como diretora em duas oportunidades (2001 a 2007 e 2011 a 2014). A professora Idivania faleceu precocemente no dia 21 de dezembro de 2014, enquanto ainda exercia a função de diretora da escola. Sua morte, aos 39 anos de idade, abalou a todos os colegas de trabalho e amizades firmadas ao longo dos anos.


Termo de doação e termo de compra do terreno.

 

No dia 26 de novembro de 1985, foi lavrado o termo de doação de um terreno, o doador foi Miguel Arcanjo da Silva e sua esposa Maria de Lourdes Silva, residentes na Lage da Boa Vista. A propriedade do casal era de 12 hectares, da qual, de acordo com documento cartorial, foi desmembrada uma área de mil e duzentos metros quadrados, cujos limites margeavam a antiga avenida dos Rodoviários. Os limites do dito terreno eram:

 

Ao sul, com a avenida do Rodoviário, ao poente e ao norte, com o os doadores e ao nascente com José Valter Cardoso de Oliveira.

 

Em valores da época, o terreno estava avaliado em 5 milhões de cruzeiros, a área construída seria ampliada mediante compra de mais uma área de terras adjacente. O terreno de dois mil e quinhentos metros quadrados foi adquirido do casal Eliezer Cosme dos Santos e Marizete Maria Santos, os limites do dito terreno eram os seguintes:

 

Localizado no perímetro urbano da cidade de Fátima, Bahia, confrontando ao norte com a BA 2020, medindo 44 metros, ao sul com a Travessa Maria Preta, medindo 35m, ao leste com a Rua Maria Preta, medindo 46m e a oeste com a terra dos vendedores, medindo 80,3m

 

O terreno foi vendido a um valor total de 8 mil cruzeiros, venda consumada em 25 de setembro de 1998.

         

 

AGRADECIMENTOS:

·       Marilene Santana Silveira

·       Edimilson Oliveira Souza

·       Juan Kléber Menezes;

·       Eduardo Pires de Andrade;

·       Cidney Andrade Nascimento;

 

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Calúnias do passado na Vila do Bom Conselho.


 

No dia 2 de novembro de 1892, uma abastada família do Bom Conselho comprava um espaço no jornal impresso denominado JORNAL DE NOTÍCIAS, com sede em Salvador sob o desejo de defender a honra de um dos seus membros e, por consequência, a honra de toda a família Gonçalves de Souza.

Dias antes da nota no dito jornal, João Gonçalves de Sousa, morador nascido no Bom Conselho, se dirigia à capital portando certa quantia em dinheiro, o objetivo da viagem era fazer compras para o seu comércio e trazer víveres para os seus conterrâneos. Era uma viagem longa, cansativa e dispendioso.

Na altura do município de Alagoinhas, houve um roubo de animais e o sertanejo foi acusado de ser o malfeitor.

Não se sabe se João Gonçalves foi ou não o praticante do crime, o que ficou para a história, foi a indignação dos seus familiares com o ocorrido. Tamanha foi a revolta da família que um dos seus irmãos procurou o periódico para publicar a nota e esclarecer que em sua família não havia ladrões.

Não satisfeito, a família Gonçalves recolheu notas do Juiz da cidade, do Juiz de Paz, do promotor e do padre, afirmando a boa conduta do rapaz. Todos esses depoimentos foram publicados na nota, a fim de dar veracidade ao que diziam.

O padre Vicente Martins, que estava no Bom Com Conselho já fazia nove anos, assim escreveu:  

 

Atesto que o procedimento do suplicante, já como pai de família, já como comerciante, já como empregado público, é ótimo.

 

Bom Conselho, 1° de novembro de 1892.

 

Esse é um fato que aparentemente não tem muita importância histórica, mas que é uma amostra muito interessante para entendermos as regras de conduta e demais facetas sociais de quem viveu no sertão nessa época.

 

terça-feira, 29 de abril de 2025

Escravidão no sertão. O Fundo de Emancipação Nacional em Cícero Dantas, Bahia.

 


Criado no âmbito da Lei do Ventre Livre em 1871, o Fundo de Emancipação Nacional foi mais um aspecto da política abolicionista, um instrumento financeiro que visava financiar a alforria de cativos e dar suporte a libertos nos primeiros anos de emancipação.

          A lei 2040, previa a compra da liberdade de escravizados financiados pelo próprio Estado Imperial. Os recursos eram oriundos de impostos como o do açúcar e liberados em forma de cotas para os municípios brasileiros. Esse dinheiro, uma vez destinado a cada município ou vila, era pago aos proprietários dos cativos selecionados para receber a carta de alforria.

          A seleção desses homens e mulheres para receber a tão sonhada liberdade, era feita por junta de classificação municipal, composta pelo promotor público, do coletor e pelo presidente da câmara local.

          Infelizmente, existem inúmeros relatos de favorecimentos de partidários políticos, familiares e amigos dos integrantes das juntas de classificação, até mesmo de superfaturamento nos preços das alforrias, o que não elimina os benefícios dessa política pública nos anos derradeiros da escravidão.

          De acordo com o relatório de presidente de província da Bahia de 1887, um ano antes da promulgação da Lei Áurea, o município de Bom Conselho (atual Cícero Dantas) teve um total de 22 libertos pelas cotas do Fundo. Os custos para os cofres públicos para a província da Bahia nesse ano superaram os 142 mil Réis. Dessa quantia, 13 mil e 170 Réis foram destinados à Cícero Dantas.

          Em algumas localidades da Bahia, a cerimônia de entrega das alforrias aos escravizados tomavam ares festivos, chegando-se até a festividades com ornamentação dos prédios das câmaras, fogos de artifícios e música para celebrar a libertação. Essas festividades serviam como instrumento de pressão para a finalização definitiva da escravidão no Brasil.

          O relatório em questão é assinado pelo então presidente da província da Bahia, o político pernambucanos Theodoro Machado Freire Pereira da Silva, que ocupou o cargo entre os anos de 1885 e 1887.